Dormindo na Rua

From Opus-Info
Jump to navigation Jump to search

Conversando com outro ex-numerário do Opus Dei, lembrei-me de um fato que tinha apagado de minha memória. Como se sabe, a saída da Obra é algo traumática, o que, como qualquer psicólogo confirmará, é capaz de causar o esquecimento dos eventos mais significativos.

Como diz o Prof. Dr. H., é ambígua a situação das "iniciativas particulares" dos membros do Opus Dei. No caso concreto da Editora Quadrante, é sabido que os membros do Opus Dei são chamados a cumprir metas de venda de assinaturas do Círculo de Leitura dessa editora. Existem (ou pelo menos existiam no tempo em que eu era numerário) reuniões semanais da "campanha" de assinaturas, nas quais se cobra de cada membro um mínimo de obtenção de assinaturas no período.

A exigência no cumprimento de tais metas pode chegar aos extremos aos quais fui submetido. O cumprimento de tais exigências sempre foi para mim uma tortura. Não conseguia entender a razão pela qual o "apostolado de amizade e confidência" (a essência do apostolado da Obra, segundo seu Fundador) podia se fazer instrumentalizado em uma campanha de venda de livros para quem quer que fosse.

Nestas circunstâncias, era natural que meu desempenho como "vendedor" do Círculo de Leitura fosse medíocre. Esse fato fez com que D.C.Z., o subdiretor de meu centro (o de Vila Mariana), a mando sabe-se lá de quem (pois nunca me pareceu que tal atitude pudesse condizer com a imagem que eu fazia de tal pessoa) me dissesse que "EU NÃO DEVERIA VOLTAR AO CENTRO (MINHA CASA) ANTES DE OBTER UMA ASSINATURA DO CL".

Ora, em tal circunstância, tentei, desesperadamente, obter um assinante. Não tendo sido possível e, dada a ordem que me fora dada, nada me restou senão procurar algum local em que pudesse passar a noite com um mínimo de segurança. Assim sendo, passei a noite num banco do Terminal Rodoviário do Tietê.

No dia seguinte, voltei ao meu Centro, profundamente humilhado, tendo que admitir que não tinha encontrado um assinante.

José Tomás