Despedida? - R.

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É o Fim?

Neste último 21 de dezembro encaminhei à Comissão Regional do Opus Dei no Brasil uma carta ao Prelado onde solicitava a dispensa dos compromissos assumidos ao incorporar-me à Prelazia como numerário.

Quantos conhecem meu profundo e vital envolvimento com o Opus Dei nesses últimos 22 anos, podem fazer idéia de quão difıcil e dolorosa foi para mim essa decisão.

É relativamente conhecida a história dos fatos que culminaram na entrega dessa carta.

Primeiro a mesquinha vingança perpetrada por meio de uma denúncia caluniosa por parte do subdiretor local.

Depois, o oportunismo do respectivo diretor [O diretor e subdiretor a que me refiro são, respectivamente, Paulo Oriente Franciulli (filho do ministro Domingos Franciulli Neto do Supremo Tribunal de Justiça) e Pedro Paulo Magalhães Oliveira Júnior (filho de um membro supernumerário do Opus Dei). Ambos permanecem em seus cargos.], que, tomando partido da minha ausência por motivo de trabalho, encaminhou esta denúncia à Comissão Regional do Opus Dei no Brasil agravando-a com outras acusações baseadas em distorções da verdade.

E, finalmente, o desinteresse da Comissão Regional em apurar a verdade dos fatos antes de tomar a desastrada decisão de expulsar-me sumariamente do centro sem qualquer oportunidade de esclarecimento ou defesa.

No último dia 30 recebi por intermédio do Delegado do Conselho Geral para a Região do Brasil, a resposta verbal a essa carta demissória. Desde então, estou formalmente desvinculado da Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei.

Obscuridade e Esclarecimento

Nos 7 meses e dois dias que correram entre minha expulsão e a consumação de minha demissão, procurei de todas as maneiras ao meu alcance outro desfecho.

Embora algumas pessoas implicadas nos acontecimentos procurem insinuar o contrário (talvez a fim de justificar sua tortuosa conduta), o fato é que em momento algum alimentei qualquer dúvida a respeito da sobrenaturalidade e da realidade de minha vocação nem ``me arrependi do investimento vital que representaram esses 21 anos empenhados (com os naturais erros e acertos) em ``fazer o Opus Dei, sendo eu mesmo Opus Dei.

Motivado pela esperança de compreender e assim superar esses acontecimentos recorri, como é natural, às autoridades da Prelazia em busca de esclarecimento.

Recebido com alguma cordialidade (e muito atraso) por parte dessas autoridades, em pouco tempo fui forçado a render-me às evidências e reconhecer que não havia disposição para um diálogo propriamente dito, isto é, um processo encaminhado a superar conjuntamente as severas dificuldades criadas pela atuação dos diretores envolvidos.

Aquilo que meus interlocutores (em alguns casos evidentemente despreparados para a tarefa) apresentaram como ``oportunidade de diálogo não chegou a passar de um discurso unilateral e inflexıvel dirigido a reinterpretar os fatos (talvez com o fim de assim justificar a posterior evolução dos acontecimentos).

Embora tenha permanecido até o último momento aberto ao contato com os diretores, percebi que se dependesse deles como única fonte de luz, permaneceria na obscuridade.

Empenhei-me então numa verdadeira maratona de auto-esclarecimento recorrendo ao diálogo (este, sim, verdadeiro diálogo) com membros e ex-membros do Opus Dei cuja retidão e honestidade sempre foram um exemplo para mim.

Para encurtar uma história longa, o resultado dessa maratona foi a constatação de que, infelizmente, meu caso não era uma exceção; o contato direto com pessoas e situações diversas ``geradas ao redor do Opus Dei no Brasil conduziu-me à triste conclusão de que um número muito significativo de pessoas que se desligaram da instituição foram conduzidas a isso desfecho pela desatinada atuação dos diretores.

Opus Dei do Brasil?

Por algum tempo acreditei que esses casos denunciavam uma peculiaridade (distorção?) da corrente praxe do Opus Dei no Brasil; que tratava-se de episódios tıpicos de avatares históricos desta Região, que ilustravam o quão daninho pode ser qualquer desvio da praxe com relação ao Espırito que todos no Opus Dei solenemente nos comprometemos a preservar.

Hoje, porém, não me resta senão render-me à evidência de que não é esse o caso.

Assim como tive a oportunidade de conversar com profundidade e franqueza com muitas pessoas bastante curtidas pela realidade da Obra no Brasil, também encontrei testemunhos, coincidentes com estes em sua substância, referentes a diversas outras Regiões onde o trabalho do Opus Dei atingiu um certo grau de maturidade.

Não falo aqui da costumeira incompreensão que pode sofrer o trabalho apostólico pujante ou o testemunho comprometido da vida de pessoas que procuram levar à prática os ensinamentos evangélicos.

Também não se trata dos conhecidos ``ataques à Obra ou à Igreja, desferidos pelo ressentimento ou pela tentativa de justificar o ter 'olhado para trás depois de posta a mão no arado'.

Trata-se antes do testemunho de pessoas que por muitos anos procuraram dar o melhor de si procurando viver integramente esse mesmo Espırito e que, a uma certa altura de seu caminho, viram-se perplexos diante da mesma disjuntiva paradoxal.

Não é possıvel deixar de se impressionar com tamanha coincidência de experiências e apreciações a partir de circunstâncias tão diferentes de época, entorno e peculiaridades sociais.

O confronto entre tais experiências, a minha própria e a de tantas outras pessoas com quem tive o privilégio de conversar nesse perıodo foi sem dúvida marcante para o esclarecimento que eu procurava. Definitivo, entretanto, foi observar no desenrolar dos fatos a dolorosa confirmação de tantas experiências alheias na minha própria.

Noutras palavras (e faço questão de deixar bem claro para evitar tergiversações), não foi a impressão causada pelo contato com tais experiências o que me convenceu de que não havia outra saıda a não ser a que leva para fora; foi a atuação dos diretores ao longo desse perıodo que, confirmando a cada passo meus temores, encaminhou-me para lá.

Como muito bem expressa o ex-capelão da Universidade de Navarra, D. Antônio Ruiz Retegui, a quem já aludi acima,

 El bien de las personas está marcado por su teleologıa y no por lo que es definido como tal desde instancias institucionales, que suelen ser interesadas y parciales. Si se adopta esta perspectiva es fácil imponer a las personas ``lo mejor según los juicios institucionales, sin atender adecuadamente a la persona. La persona presuntamente querida no es reconocida entonces en su verdadera condición personal, sino solamente como miembro de la institución, como representante de una cualidades u opiniones compartidas por todos los miembros. Ese nivel de la existencia no alcanza a lo verdaderamente personal.

Com perdão pela digressão, não resisto a transcrever o parágrafo subseqüente do mesmo ensaio ,

 Por eso un criterio irrenunciable es el respeto a la libertad de cada uno y, de manera particular, el respeto a su intimidad. En este sentido la Iglesia Católica da una muestra egregia de respeto a la persona con su institución del sigilo sacramental. En efectos en el sigilo, que no puede ser violado absolutamente, se muestra que la intimidad de la conciencia no puede ser violada ni siquiera con la presunta intención de ayudar más a la persona. Esto enseña que el bien de la persona no se puede procurar a costa de ella misma. Ni siquiera en las instituciones vocacionales de búsqueda de la perfección se permite que la conciencia sea asunto que se pueda tratar en el fuero externo. El canon 630 §S prohıbe taxativamente que los superiores traten de invadir el terreno de la conciencia de los que les están sometidos incluso institucionalmente.

pois descreve (e explica) muito fielmente uma dessas perplexidades que atormenta muitos dos que passaram por cargos de governo e/ou atenção de almas no Opus Dei.

Os pontos 34 e 40 de Caminho

34. Não tenhas medo à verdade, ainda que a verdade te acarrete a morte.

40. Fé, alegria, optimismo, - mas não a estupidez de fechar os olhos à realidade.

Nesse perıodo também pude constatar que é considerável o número de pessoas que, permanecendo vinculadas ao Opus Dei, são bastante conscientes desses problemas.

É fato que muitos e muitos, com sua experiência e retidão, não hesitariam em subscrever, por exemplo, a análise do ex capelão da Universidade de Navarra, D. Antônio Ruiz Retegui, em sua magistral monografia Lo teologal y lo institucional caso estivessem convencidos da utilidade de tal gesto.

Muitos e muitos escreveram ao Prelado, muitos e muitos falaram demoradamente com membros de Comissões de Serviço, muitos e muitos falaram com diretores regionais e locais sobre manifestações das mesmas causas que provocaram o incidente de que fui vıtima e outros tantos e tão mais graves.

Que acontece nesses muitos e muitos casos?

As respostas parecem ser, também, muitas e muitas.

Em alguns casos, provoca-se um progressivo desgaste psicológico que leva a distúrbios psıquicos, tratados com maior ou menor acerto de acordo com a prudência e experiência dos diretores imediatos.

Noutros esse mesmo desgaste, com o tempo, leva a uma situação de afastamento (ausência) psicológico que converte a luminosidade da vocação numa penumbra cujo efeito mais visıvel é a criação de sombras cada vez mais esticadas (e os que convivem com a realidade de alguns centros -- principalmente, mas não exclusivamente, de São Gabriel -- sabem bem disso).

Noutros espera-se, com fé e paciência verdadeiramente heróicas (e que Deus não deixará de premiar, tenho certeza), no convencimento de que ``o Céu está empenhado em que se realize apesar do que os olhos vêem.

E infelizmente, em cada caso, parece ser que a decisão de continuar esperando, refugiar-se no trabalho, na doença ou no que esteja mais à mão, não pertence a cada um, mas sim à dialética própria de uma realidade onde o ``Institucional ameaça constantemente suplantar o ``Teologal.

Tem razão os que esperam? Tem razão os que desistem? Deus saberá. Cada caso é cada caso. O fato é que a decisão NÃO PERTENCE a cada um. As circunstâncias podem determinar (e com freqüência determinam) o destino de cada caso, usando seus instrumentos de formas que eles próprios nem suspeitam, como aconteceu com Caifás (Cfr. Jo. 11,46-53).

Só nos resta confiar (como repeti tantas vezes naquela inesquecıvel noite de 28 de Junho de 2003), ``que Deus tenha misericórdia de todos nós.

Samaritanos (e Fariseus?) do Século XXI

É forçoso reconhecer que, em diferentes medidas segundo cada caso, minha atuação nesses anos a serviço do Opus Dei serviu para aproximar da instituição várias pessoas que, como eu, beneficiaram-se do seu influxo.

Diante do exposto acima, não posso evitar um certo temor por essas pessoas, ciente de que é muito possıvel que algumas delas passem por momentos igualmente tenebrosos, muito apesar seu.

Queira Deus esteja eu enganado. Caso contrário é inevitável sentir-me responsável pela parte que tenha jogado (ainda que remotamente) nesse processo e oferecer desde já meu apoio em qualquer forma que esteja ao meu alcance, apoio este que recebi de forma gratuita de tantas pessoas nestes últimos meses.

A verdade é que, durante o perıodo de prostração de que fui vıtima nesses últimos 7 meses, protagonizei uma versão pessoal da Parábola do Samaritano.

'Despojado e ferido, largado semimorto na estrada', recebi o socorro paternal de Deus através das pessoas mais inesperadas, dos ``proscritos: pessoas que se 'movendo-se de compaixão aproximaram-se' apesar (?) de não ostentar as credenciais de ``Bom Pastor autorizado.

Paradoxalmente, tal como na parábola, aqueles de quem seria razoável esperar esse amparo em função dessas mesmas credenciais, ``viram e passaram ao largo quando não contribuiram positivamente para agravar ainda mais a já crıtica situação ...

No relato evangélico, depois de sublinhar a ``moral da história com a pergunta ``Quem desses três te parece ter sido próximo daquele [homem]? a resposta é ``O que fez com ele misericórdia.

Minha gratidão aos meus próximos não cabe em palavras:

Em primeirıssimo lugar ao Jean, que (naquela altura ainda um numerário do Opus Dei) acolheu-me como um verdadeiro irmão afrontando com isso toda sorte de incomodidades. Legião é o número dos numerários(as) e ex-numerários(as) que lhe devem gratidão por sua generosa e desinteressada atenção, que poupou não poucos sofrimentos. Ainda assim, creio poder contar-me entre aqueles que tem o privilégio de dever-lhe mais que os outros.

Ao Pe. João Sérgio, cujo apoio, conselho e companhia nas primeiras semanas após a expulsão facilitou-me tanto esses momentos dolorosos (por exemplo, fazendo-me companhia - e protegendo-me de agressões - enquanto removia meus pertences do centro do qual fui expulso). É muito de lamentar que tenha sido eu a última pessoa a quem sua saúde permitiu dedicar esse desvelo ao mesmo tempo fraternal e sacerdotal numa crise dessa natureza (e Deus sabe quantas mais não terá tido que amparar). Consciente do desgaste que representou essa atenção, não posso evitar um certo sentimento de culpa ao vê-lo reduzido ao estado em que se encontra.

A meus pais e irmãos, que apesar de nunca terem nutrido grande simpatia pelo Opus Dei, heroicamente respeitaram minha decisão de integrar-me à Prelazia e, com igual respeito (fruto do verdadeiro amor), ampararam-me incondicionalmente nesses momentos em que teriam pleno direito de recriminar-me.

Ao meu orientador, colegas e amigos do IME-USP que, apesar de alheios e não especialmente simpáticos ao Opus Dei, mostraram uma imensa capacidade de compreender e ajudar apesar de (como eu, naquela altura) compreenderem muito pouco do que se passava.

A (...), Vinıcius, Cláudio Kassa, Luciano Penteado, Gabriel, Márcio Silva e outros tantos que durante esse perıodo, ainda que à distância, manifestaram sua preocupação e acolhimento que tanta diferença fizeram. Isso não tem preço.

Ao Pe. José Puy e ao Pablo pela ajuda que me deram procurando ``consertar o estrago.

A todos os numerários que, imagino, preferirão que seus nomes ``passem ocultos nesse agradecimento, uma vez que a ajuda e apoio que me prestaram ocorreram para além dos canais oficiais.

A todos esses que foram os ``meus próximos, meu muito obrigado com a esperança de algum dia poder retribuir ainda que um pouco de sua bondade.

No mais, melhor seguir o conselho do ponto 443 de Caminho ....

Despedida?

Por que intitulei ``Despedida? esta mensagem?

Muito embora o Delegado do Conselho Geral para a Região do Brasil tenha me assegurado que tal não aconteceria, temo (baseado nos acontecimentos dos últimos meses) que muitos dos que recebem esta mensagem serão aconselhados a evitar-me, a não receber qualquer comunicação de minha parte.

A mentalidade que não hesita em trocar as fechaduras do Centro que até o dia anterior fora o meu lar, com o expresso intuito de impedir a minha comunicação com aqueles que até o dia anterior foram a minha famılia, não terá escrúpulos em engrossar com meu nome essa lista (preocupantemente crescente) de indesejáveis e proscritos cujos nomes vem sendo lidos nos Cırculos Breves e outros avisos nesses últimos tempos.

Com o perdão pela digressão, isso me tráz à mente outras duas passagens dos evangelhos: a cura do leproso e a ressurreição do filho da viúva de Naim.

Em ambas as passagens S. Mateus e S. Lucas fazem questão de mencionar o fato de que Jesus TOCA os protagonistas.

Desde que compreendi o horror que comporta para a tradição judaica o tocar um cadáver ou um leproso essas passagens passaram a comover-me especialmente.

É claro que Nosso Senhor não precisava tocá-los para realizar esses milagres; os Evangelhos narram uma profusão de curas sem intermédio de contato fısico. E no entanto, Jesus parece que faz questão de provocar o escândalo público e tornar-se legalmente impuro para socorrer essas pessoas dessa forma.

Por quê?

Os exegetas apresentam várias razões para explicar esse comportamento de Nosso Senhor. Ao visualizar essas passagens, como nos ensinou S. Josemaria, consola-me pensar que uma das razões pode ter sido a de oferecer um gesto muito humano de carinho, empatia, ao mesmo tempo em que realizava esses milagres tão impressionantes.

A ser assim, um dos ensinamentos embutidos nessas passagens seria o de que a importância de transmitir carinho, verdadeiro conforto humano aos aflitos é muito maior do que o cumprimento ritualıstico de umas indicações que, ao final de contas, são estabelecidas por homens, ainda que ``em nome de Deus ...

Voltando ao assunto, o fato é que tenho razões fundadas para crer que perderei o contato com tantas pessoas que prezo e de quem considero-me devedor.

Se é verdade que, em última instância, será a consciência de cada um quem decida como atuar diante de uma disjuntiva desse tipo, por outro lado não posso ignorar a pressão que pode exercer sobre a consciência de um fiel da Prelazia as ordens de um sistema focado na obtenção de resultados mais ou menos imediatos.

Assim, quero que os que me lêem agora saibam que compreenderei, caso considerem mais oportuno ceder a esse tipo de pressão. Para estas pessoas esta mensagem representará uma despedida que lamentarei, certamente, mas compreenderei.

Também eu passei por disjuntivas assim, onde consciência e obediência foram colocadas em confronto; onde, em nome da unidade, da humildade, da visão sobrenatural acabei sendo co-responsável (por ação ou omissão) do sofrimento (às vezes agudo, às vezes irreparável) daqueles que deveria tratar como irmãos, para mais tarde descobrir que nem sempre as indicações em questão provinham de uma reta, consciente e desinteressada avaliação por parte dos diretores envolvidos ...

Essas histórias talvez algum dia sejam contadas, mas este não é o lugar nem o momento ...

Penso hoje que talvez seja essa sistemática violência contra a ``recta ratio levianamente praticada por alguns diretores a causa do desgaste que (com freqüência preocupante entre os numerários do Opus Dei) degenera em depressão e outros distúrbios psıquicos.

Seja como for, quero fazer constar que mesmo nesses casos em que esta mensagem represente uma despedida, saibam que compreenderei e que sempre devem sentir-se à vontade para contactar-me no futuro.

E no caso de, no futuro, alguém ser levado, como eu, ao mesmo extremo que eu, saiba que estarei sempre disponıvel e disposto a fazer o que seja esteja ao meu alcance para prestar esse apoio que, aprendi nesses meses, pode ser tão decisivo.

A Parábola do Samaritano a que me referi acima termina com a exortação de Jesus, ``Vai-te e faze tu o mesmo.

O único propósito claro que tenho formulado para meu futuro é esse: fazer o que esteja o meu alcance a fim de poupar (ou ao menos amenizar) a outros o sofrimento por que passei.

Pude comprovar nesses últimos meses quanta demanda existe para essa obra de misericórdia.

Deixar a (ou ser deixado pela) Obra, especialmente após muitos anos de dedicação, é uma experiência psicologicamente esmagadora. Mais ainda nos casos em que o interessado não cogitava essa alternativa e é forçado a ela pelas circunstâncias.

Pessoas nessa situação precisam de um tipo de ajuda muito especializado, que por enquanto vem sendo dado por psiquiatras e psicoterapeutas que fazem o que podem, e por amigos em condições de compreender a situação que também fazem o que podem.

Em princıpio, a própria Prelazia devia prestar alguma atenção a essas pessoas (assim aprendemos todos), mas, ao menos no Brasil, tal atenção não passa de um cumprimento formal que permite preencher satisfatoriamente o devido relatório para o Conselho Geral.

Daı a quantidade de ex-fiéis da Prelazia em situações tão penosas; daı a quantidade de ex-fiéis da Prelazia nos quais a gratidão pelo que a Obra representou em suas vidas mescla-se tão intimamente com a decepção de como 'vêem e passam ao largo' aqueles que até ontem protestavam sua fraternidade de ``cidade amuralhada, ``mais forte do que a morte.