Você sabia que...? (ou... caindo na real!)

Para aumentar seus quadros, o opus dei emprega continuamente a "propaganda enganosa". Os estudantes que freqüentam seus centros encontram um ambiente acolhedor, conversam com numerários que parecem levar uma vida normal, participam de atividades culturais, uma que outra atividade social, atividades religiosas sérias...

Todo esse panorama é montado para "descobrir" vocações, sobretudo de numerários. Na proposta para a vocação, as exigências são descritas em termos genéricos: amor a Deus... filiação divina... apostolado no meio do mundo... busca da santidade... entrega...

A propaganda enganosa está aí. O conteúdo concreto da vida como numerário/a na Obra só vai sendo revelado aos poucos, depois que a pessoa já "comprou" o pacote. É o famoso "plano inclinado". Depois que a pessoa já se comprometeu, já empenhou sua palavra, a obra começa a revelar "didaticamente" o que de fato havia por trás daquele "chamado sobrenatural".

Em suma, quem entra na Obra "compra" um ideal de santidade no meio do mundo e acaba, pouco a pouco, ao longo de anos, recebendo um convento de neuroses, uma lista de obrigações absurdas, uma carga pesada de compromissos que não estavam claramente previstos: cotas de venda de livros, cotas para obter doações, obediência cega no terreno profissional etc.

É inegável que o aspecto externo dos centros da obra apresentado aos freqüentadores é simpático, e é inegável também que o opus dei faz bem aos católicos que se aproximam dele (os sacramentos, a doutrina da Igreja, uma que outra atividade cultural, o ombro amigo do numerário disponível...). O problema surge quando, atraída por esse ambiente e esses bens, a pessoa entra para a Obra como numerário/a. Nesse momento começa a manifestar-se o quanto enganosa era a propaganda.

Ao contrário do que acontece em outras instituições da Igreja (beneditinos, dominicanos, carmelitas, trapistas etc.), cujas regras, por mais duras que sejam, são do conhecimento do postulante, no opus dei, quando se propõe a alguém que entre como numerário/a, fala-se apenas de uma "entrega total", na qual há que viver genericamente "a obediência", "a pobreza", "a castidade" etc. Naturalmente, o possível "vocacionado" vai interpretar os termos concretos desse compromisso em função da imagem que ele tem obra até aquele momento. Ele praticamente ainda é uma "visita" no Centro. Para ele, os numerários estão sempre sorrindo, parecem pessoas normais, sem nenhum problema, vivendo normalmente no mundo, com uma ampla liberdade etc.

Na realidade, além das pessoas que moram nos centros (muitas delas quase integralmente dedicadas a criar um clima amável lá dentro), a obra mantém uma vitrine de amostra de meia dúzia de garotos (/garotas) propaganda, gente especialmente "bem-sucedida" e bastante "normal", que surgem em momentos estratégicos (palestras, convívios etc.) para dar o aval, para mostrar que aquelas exigências abstratas são, na prática, razoáveis e sensatas.

A melhor imagem do opus dei está aí. Está aí um Pablo (o Dr. Pablo González Blasco, médico ultra-ativo), um Caloca (o "jornalista" Carlos Alberto Di Franco), um D. Rafael (D. Rafael Llano Cifuentes, até ontem bispo auxiliar do Rio e hoje bispo da diocese de Nova Friburgo), todos muito simpáticos, dinâmicos, com um bom senso razoável e bem-sucedidos...

Na verdade, a liberdade que o opus dei concede a este restrito grupo de numerários é uma concessão, dentro de um acordo tácito: se eles virem cerceada sua liberdade, deixarão de exercer a função de "garoto propaganda" e de oferecer os seus indispensáveis serviços à obra: Dr. Pablo, cuidando dos muitos nmerários com distúrbios mentais; D. Rafael, fazendo o meio-de-campo com a CNBB e as esferas eclesiásticas em geral; Di Franco, com aquele seu jeito meio afetado, segurando com maestria as pontas da imprensa para que não haja muitas críticas ao opus dei... É sobretudo a este seleto grupo-vitrine (e só a ele), a esses Intocáveis (cf. Tipologia de Um Numerário) é dado viver com aquela liberdade apregoada nos escritos do Fundador. Eles podem realizar-se no trabalho profissional: não têm limitações de dinheiro, de viagens, de cursos etc.

(Existe ainda um grupo de numerários, não tão bem-sucedidos, mas que com sua simpatia natural, ou com sua inteligência e seus talentos, contribuem para atrair o futuro numerário: Henrique Elfes e suas palestras culturais, Rafael Ruiz e seu amor à leitura, Cristiano Chauí e suas caricaturas, um outro que toca bem violão, outro que conta boas piadas, outro que joga bem futebol etc.)

E são estas as figuras que surgem aos olhos dos candidatos a ingressar na obra como numerários... Como em todas as seitas, as figuras que aparecem são gente encantadora: em qualquer programa de TV - seja da Universal, da Seicho-no-Iê ou da Legião da Boa Vontade - aparecem garotos e garotas propaganda, com carinha de bons cristãos, pregando mensagens de paz, dizendo o quanto estão felizes etc.

Então, num belo dia, a pessoa "apita", entra para a obra. E ao longo dos anos vai caindo na real... sem ter muita consciência do que está acontecendo. Vão sendo apresentadas mil limitações impostas pelo governo da obra, uma autêntica camisa de força sendo apertada lentamente, mil restrições que impedem uma pessoa de viver, por exemplo, as mais elementares obrigações profissionais e a mentir para seus chefes e colegas... Veja-se, neste site, o testemunho: "é impossível conjugar a vocação para o Opus Dei com o trabalho profissional de professor universitário".

Um caso típico para ilustrar. Digamos que um numerário é professor de uma universidade, e encare seriamente sua profissão. Como é normal, deve participar de Congressos em sua área. Para fazê-lo, porém, está previsto nas normas da obra que ele precisa consultar o diretor cada vez que surge a necessidade de ir a um evento desses...

Eis o transtorno! O numerário, com toda a humildade do mundo, vai e pergunta ao diretor se pode ir ao tal congresso. E este lhe responde: "Não! É melhor não ires." O numerário, tentando entender a negativa, temendo manifestar "mau espírito", mesmo assim pergunta: "Por que não?". E obterá como resposta um esclarecedor: "Não convém que vás...".

E, por obediência, não vai. (Na obra, o lema é: obedecer ou ir-se embora!) No entanto, quando o chefe ou os colegas perguntam por que ele não vai, precisa mentir (quem vai acreditar que ele tem um diretor "espiritual" que o impediu de ir?). O numerário, para não manchar a imagem da obra (quem disse que na obra eu não sou livre para ir a congressos etc.?), mente e inventa uma desculpa qualquer. Até que um dia, por essas e outras, perde o emprego. E aí o mesmo diretor o censura por ter perdido o emprego: "Claro, você não soube harmonizar as exigências de sua vocação com seu trabalho profissional!".

O numerário fica perplexo. Vai fazer oração... Como tudo é para Deus mesmo, resta-lhe repetir: Omnia in bonum. Omnia in bonum - "Tudo é para o bem" (alusão a Rom 8, 28), jaculatória que o membro da Obra deve repetir quando "se ferra" por obedecer a proibições e recomendações absurdas. Vai rezar, e meditar o ponto 872 de Sulco: "Se nos abrirem a cabeça, não daremos a isso a maior importância: será porque temos de levá-la aberta".

Este é apenas um exemplo. Como os diretores (ou serão ditadores...?), em geral ignoram totalmente a realidade da vida profissional do mundo, impõem mil restrições que a Obra vai inventando: não pode ter celular, não pode usar Internet, não se pode ver Tv nas casas da obra, deve ficar todas as noites em casa (dentro do Centro, fazendo encargos...), não pode comprar os livros que necessita para seu trabalho etc. etc. etc. E quando o numerário fica reduzido profissionalmente a uma sombra, manifesta sintomas de depressão e doenças mentais, Omnia in bonum, era a vontade de Deus...

Por isso, para que pessoas e sobretudo jovens de boa vontade não sejam "fisgados" pela propaganda enganosa, e só mais tarde caiam na real (às vezes tarde demais), dedicamos esta página a algumas revelações de detalhes menores e aparentemente ridículos do dia-a-dia da vida de um membro numerário.

São coisas pequenas, mas é o próprio opus dei que ensina o imenso valor das "coisas pequenas". Coisas pequenas que, aqui explicitadas, permitem visualizar aspectos insuspeitados (na linha da outra matéria deste site, as perguntas ao seu diretor espiritual), que são a regra geral dos bastidores.

Trata-se de pequenas amostras dos milhares de cacoetes impostos aos numerários... reunidas aqui com a colaboração de vários integrantes do opuslivre. São obrigações, burocracias e picuinhas sem nenhuma razão prática, exceto a de manter a psicologia da dependência...

Esta lista está aberta a contribuições!

Você sabia que...?

  1. Um numerário está proibido de cumprimentar mulheres ou meninas (exceto mãe, tia e avó) com beijos no rosto... Você sabia...?
  2. Um numerário está proibido de ir a cinema ou ao teatro, e que a TV do centro está fechada por uma chave que fica com o diretor, e este só a liga para os moradores do centro em raríssimas ocasiões, para verem o telejornal (isso em centros de mais velhos), ou um jogo de futebol, ou um filme em vídeo (devidamente censurado pelo governo nacional da obra)... Você sabia...?
  3. Vários filmes (o inofensivo "Coração valente", por exemplo) estão proibidos nos centros do opus dei... Você sabia...?
  4. Para evitar tentações, foram retirados os telefones dos quartos dos numerários e só se pode falar dos aparelhos dos locais públicos dos centros... Você sabia...?
  5. Um numerário não pode dar ou aceitar carona de mulher e nem deve chamar as colegas pelo apelido (Ju, Malu etc.)... Você sabia...?
  6. Um numerário jamais pode comprar qualquer objeto fora dos g.o. (gastos ordinários) sem consultar antes o diretor. Para, por exemplo, comprar um livro de R$ 16,00 para realizar um trabalho, tem de ver o preço do livro, voltar para o centro, consultar o diretor, e voltar à livraria depois de aprovada a compra, gastando mais do que os míseros R$ 16,00 - e isso se a compra for aprovada, pois é normal que não seja, pois a leitura está mal vista na obra... Você sabia...?
  7. Um numerário não pode nunca ir a festas, sobretudo de parentes (aniversários, casamentos, batizados, Natal etc.), nem ser padrinho de ninguém... e dificilmente tem dinheiro para comprar presentes para os pais, irmãos, sobrinhos... Você sabia...?
  8. Um numerário jamais pode faltar ao retiro anual que dura uma semana em silêncio, ou ao recolhimento mensal (praticamente um domingo inteiro), ou às meditações e círculos e palestras onde precisa examinar-se sobre como vive as regrinhas da Obra, como as aqui explicitadas... Você sabia...?
  9. Um numerário não pode ler um livro sem antes consultar o index de livros proibidos do opus dei, e ter autorização expressa para poder ler, dizendo quanto tempo por dia vai dedicar à leitura... Você sabia...?
  10. Um numerário para jantar fora das casas do opus dei (por motivos profissionais ou outros) tem que receber autorização prévia do diretor, e em geral lhe é negada essa autorização... Você sabia...?
  11. Um numerário não formado na universidade não pode sair sozinho à noite, e, se lhe for permitida essa saída, precisa estar acompanhado por outro numerário... Você sabia...?
  12. Essas (dezenas de) consultas devem ser feitas em momentos em que o diretor esteja disponível (na sala do diretor há uma campainha com sinal verde ou vermelho), e esperar uma hora em que ele não esteja de mau humor... Você sabia...?
  13. Se autorizado pela consulta para usar o carro do centro, o numerário, ao voltar, deve preencher uma tabela com a quilometragem inicial, quilometragem final, e com o número de quilômetros rodados... Você sabia...?
  14. Seu quarto (mesmo se for individual, como em alguns centros de mais velhos) não tem chave, mas tranca, de modo que quando ele não está, qualquer um pode entrar... Você sabia...?
  15. O jornal do Centro (em São Paulo, somente o Estadão, por ser mais conservador) só fica disponível depois que o diretor corta (literalmente) as partes (ou suprime páginas inteiras) inconvenientes, dentro de uma mentalidade moralista e rigorista... Você sabia...?
  16. Nos dias de festa interna da obra, os numerários devem fazer a oração, assistir à Missa e almoçar de terno e gravata... ... Você sabia...? (O fato curioso é que esta obrigação é só para a Missa que se assiste na casa; se não está o sacerdote e é preciso assistir à Missa numa igreja fora, está dispensado o engravatamento...)
  17. Para ser cooperador do opus dei - e ganhar as indulgências plenárias -, é necessário contribuir mensalmente com pelo menos 30% do salário mínimo (com a Osuc, ou algum equivalente)... Você sabia...? É, pobre não entra.
  18. Em todos os centros, há nos telefones o sistema de conferência, de modo que o diretor pode ouvir qualquer conversa... Você sabia...?
  19. Nas aulas dos Cursos internos da obra não se pode perguntar e as aulas de Catecismo consistem num rodízio em que cada um dos presentes lê um ponto, segue-se um silêncio para memorização, outro lê outro ponto... Você sabia...?
  20. O único papa não citado no Novo Catecismo da Igreja Católica é S. Pio X, o único Papa que é santo intercessor da obra... Você sabia...?
  21. Numerário não pode dar aulas em PUCs (universidades católicas)... Você sabia...? (Recentemente, no entanto, a obra começou a tomar espaço na Rede Vida, desmentindo a sua pregação de que não participa de empreendimentos clericais...)
  22. Nas visitas aos pobres que os numerários fazem levando um amigo, o único objetivo é criar neste um sentimento de culpa e de entrega à obra... Você sabia...? (Na realidade, os pobres que se lixem, ou... segundo palavras do próprio Fundador, "No se trata de hacer una labor continuada con ellos, sino con los chicos que hacen las visitas..." (Escrivá de Balaguer: "Instrucciones", 9 de enero de 1935.) E mais: "Este contacto con la miseria o con la humana debilidad es una ocasión de la que suele valerse el Señor para encender en un alma quién sabe qué deseos de generosidad y divinas aventuras". (Escrivá de Balaguer: Carta "Quem per Annos", 24 de octubre 1942, n.° 41.)
  23. "A casa de meus pais". Numerário, mesmo um aspirante de 14 anos que more com seus pais, não pode se referir à sua casa como "a minha casa". Deve dizer "A casa de meus pais". E nunca pode se referir a seus pais e irmãos como "minha família", mas somente "minha família de sangue"... Você sabia...?
  24. Se o filho de um supernumerário não está casado direitinho pela Igreja, esse supernumerário é orientado a não pôr os pés na casa do filho nem deixar que a companheira do filho entre em sua casa... Você sabia...?
  25. Quando o sacerdote do centro não está e os numerários e numerárias auxiliares têm que assistir missa fora (numa igreja qualquer), os numerários não podem sequer dar "a paz de Cristo" às numerárias auxiliares que estejam por perto... Você sabia...?