Um ano no Jacamar

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Depois de ler tantos depoimentos nesse site posso dizer que “minha ficha caiu”. Justo eu que me julgava tão esperta não percebi, na época, alguns absurdos que aconteceram durante 1 ano e pouco que participei do Centro de Estudos Jacamar.

Tudo começou naquela fatídica idade da busca da identidade (16 anos) quando você não tem idéia se quer ser freira, se casar ou comprar uma bicicleta. Sempre achei que eu não podia ser freira porque já havia cometido pecados demais e para aquela vida precisava ser santa. Até que um dia fui me confessar, numa igreja, com um sacerdote da Obra: Pe. I. Ele disse que tudo isso era besteira, que importava se arrepender, confessar e recomeçar. Pois bem, gostei da filosofia dele e de pronto aceitei fazer direção espiritual com ele, na Igreja.

Durante esse tempo de direção fui “doutrinada” com os livrinhos da Quadrante hehehehe e minha “burrice” ou ingenuidade me levou a fazer a assinatura da Quadrante, mas eles se deram mal, sabe por quê? Não sei o que fizeram em meu cadastro que recebia os livros duplicados, paguei por uma assinatura e ganhei duas (hahahahha bem feito para eles!). Até que meu diretor me deu para ler o “Homem de Vila Tevere”.

Pedi para conhecer a Obra fisicamente, ele entrou em contato com um amigo padre e pediu para que a sobrinha dele me levasse.

Meu primeiro encontro na Obra foi bem “legal”, era hora da tertúlia, as meninas todas se voltaram para mim, senti que repararam bem na minha calça jeans e camiseta roxa (até da cor lembro), e fizeram milhões de perguntas da minha vida... parecia um interrogatório. Depois rezamos o terço, era algo alienante, as pessoas rezavam andando de um lado para outro dava até angústia, pareciam doidas! Mas enfim, depois mostraram a grandiosidade do lugar, a beleza e uma mulher mais velha, a M.E veio saber qual formação eu tinha. Ela quis me ensinar o óbvio da doutrina, isso eu já sabia. No mesmo dia ela pediu para uma menina me levar para casa. Achei um absurdo tal cortesia! Nem conhecia direito aquele povo, meu primeiro contato e já queriam saber onde vivo... na verdade queriam saber se eu tenho grana (se deram mal porque eu não tinha e não tenho), a menina olhou bem para minha casa, sequer quis conhecer minha mãe e foi embora.

Nas próximas vezes que fui ao Centro levei uma outra amiga (ai que erro! Meti uma amiga em fria), sei que com o tempo nos separaram, não gostava disso, mas tudo bem... davam muito mais interesse e atenção à mim, diziam que eu era muito esperta, inteligente, comunicativa e etc... Até que um dia os pais da minha amiga deram uma carona para nós até o Centro e no dia o pai dela estava com um Honda Civic zerinho.... de repente percebi um interesse maior por ela também, convidaram a mãe dela para participar em outro Centro. (É brincadeira?!)

Com o tempo, me proibiram de ver filmes no cinema (pois não eram selecionados pelas integrantes da Obra. Antes, de eu ver ou freqüentar qualquer coisa/lugar precisava da aprovação de alguém), a sair com meus amigos, e aconselharam até mudar de amigos já que aqueles não serviam para mim. Diziam que era tudo “do inferno”, que não era adequado...

Minha mãe me aconselhou não freqüentar mais o centro, disse que um padre amigo dela havia comentado que eles me afastariam da família. Depois disso briguei com ela e foi dito e feito! (A gente fica cego, pensa que está fazendo a vontade de Deus, mesmo que essa vontade é se afastar dos seus entes mais queridos).

Na direção espiritual o padre começou a me aconselhar a não comentar os sacrifícios e práticas diárias com ninguém porque as pessoas simplesmente não poderiam entender... a santidade não é compreendida.

Um belo dia de maio a minha “amiga”, aquela chata da M.E, perguntou com quem eu iria fazer a romaria durante a semana. Eu respondi que faria com um amigo da Obra, o H. Para que?! A M.E ficou louca da vida! Dizia que não podia porque ele era homem e eu não podia andar com meninos e etc.... achei aquilo um absurdo e contra argumentei dizendo que não havia maldade, que éramos amigos e nada mais. Sei que ela falou tanto na minha cabeça que eu desisti da idéia, me senti a mais pecadora do mundo, me senti uma Maria Madalena da vida.

Depois de um tempo eu na minha inocência propus um encontro entre meninos e meninas que freqüentavam a Obra para que nos conhecêssemos e quem sabe geraria vocações matrimoniais... nossa aí acho que “virei” a filha do “demo”. Hehehehehe

Passado um tempo, o cerco começou a fechar, a tal da M.E me ligava umas 30 vezes por dia, sei lá para que. Queria ir almoçar comigo todos os dias e eu que sempre fui muito “espuleta” levava várias “chamadas” para ser mais discreta, doce, falar mais baixo, ter uma melhor postura e etc... Um dia ela me convidou para um dos inúmeros retiros, lembro que tinha que pagar uma grana “alta” (ainda mais para uma menina de 17 anos que era estagiária), nessa época tinha um evento em minha paróquia e eu disse que não queria ir ao retiro. Aí ao invés de me ligar umas 30 vezes, recebia umas 50 ligações por dia até chegar ao fim dela dizer: “se o problema é dinheiro, arrumei um casal muito piedoso que pagará o retiro para você”. Achei aquilo um absurdo! Nem para minha mãe eu pedia dinheiro quanto mais aceitaria de um casal que jamais tinha visto na vida! Respondi que não ia ao retiro porque não queria e ponto final, que a grana não me impedia.

Depois desse retiro recebi uma cartinha da diretora do centro, dizendo que ela sabia da minha vocação, que estava rezando muito por mim e que em breve ela queria acertar as coisas comigo, ter uma conversa definitiva. Eu me perguntei: “que vocação, que conversa....”. Para quem não acredita (em tamanha burrice dela!) perigas de algum dia eu jogar aqui o scanner dessa carta...

Sei que me senti sufocada! Eu já não convivia mais com minha mãe de final de semana, deixei de freqüentar a casa da minha família, e a M.E não saia do meu pé... mandei tudo as favas... queria continuar com minha vida de antes, queria voltar a ser alegre, a ter o sorriso verdadeiro no rosto....

Aí lembrei que um dia havia escutado no centro: “para entrar as portas sempre estão fechadas, mas para sair estão escancaradas!”. Então pensei que era só dizer que não tinha mais interesse e parar de ir, mas nada disso aconteceu. Aí que a tal M.E me perseguia. Não só ela, mas também outras duas, a D e a B. Ave! Perdi completamente a paz.

Até que eu acho que elas perceberam que não tinha mais volta e desencanaram de mim... estava tão alienada que uma vez conheci um cara da Obra que era professor e achei um absurdo ele me cumprimentar com um beijo e um abraço, aquilo não era permitido, como ele, sendo numerário estava infringindo essa regra... (olha a lavagem cerebral que a Obra faz na gente).

Apesar da pouca idade tive o mínimo de maturidade para acordar na hora certa, antes mesmo de “apitar”.

Ass: CLARA!