O melhor amigo do centro

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No estudo sobre a “Sociedade Fechada”, descrevemos a torção do conceito de “povo escolhido” para “o mais gostoso” diante de Deus. Cabe aqui explicitar como a doutrina do “mais gostoso” é aplicada na prática, especialmente no que se refere à escolha de numerários/as em potencial e, em contraposição, à existência dos “eternos” rapazes/moças de São Rafael, que freqüentam os meios de formação dos centros, mas nunca “apitam” (nunca ingressam na instituição como numerário/a).

A doutrina do “mais gostoso” diante de Deus é sustentada por critérios de seleção dos elementos da tribo opus dei. Na seção masculina, até o final da década de 90, os critérios de seleção dos numerários estavam baseados, em sua maioria, na capacidade intelectual. Os sinais explícitos que confirmavam a escolha dos “eleitos” relacionavam-se com o tipo de instituição escolar em que o indivíduo estudava e seu respectivo desempenho em notas do histórico escolar. Desta forma, o apostolado dos membros do opus dei nos ambientes universitários estava mais focado para instituições de grande renome, como a USP, UFRJ, Santa Casa etc., para ficarmos apenas no ensino superior. De forma oposta, o apostolado não era estimulado em outras escolas, por serem consideradas de segundo escalão pelos diretores dos centros. Na prática, era muito raro encontrar um numerário que fosse estudante de escolas consideradas fracas pelos diretores, como: FAAP, FMU, UNIP..., devido à restrição elitista. No caso dos adolescentes, o enfoque dirigia-se a escolas tradicionais e particulares, como o Bandeirantes, Porto Seguro, Vera Cruz, Arquidiocesano, São Luiz, Dante, Rio Branco, São Bento, Santo Inácio, Colégio Militar etc. E, na prática, uma escola estadual como o Fernão Dias (Pinheiros - SP) ficava fora dos esforços apostólicos dos membros do opus dei nas décadas de 80 e 90 (hoje, com a inviabilidade do apostolado do opus dei nas melhores escolas, o novo celeiro de vocações são filhos de supernumerários e de cooperadores, moldados nos clubinhos de crianças nos próprios centros, em que monitores de 20 anos ou mais cuidam de meninos de 9 a 12 anos).

Esta mentalidade voltada para saber onde estudava a pessoa realçava a idéia de que o indivíduo é igual à tribo a que pertence e que a pessoa em si mesma não é nada. Na hora h, de 100 almas interessavam somente aquelas poucas que freqüentavam as instituições de ensino tradicionais... coincidentemente provenientes de famílias com boa renda. Aqueles amigos de infância que acabaram indo para faculdades menos nobres deixavam de ser “interessantes”, e o numerário tinha de eliminar aqueles nomes da “listinha” de apostolado.

Um critério de escolha hoje cada vez mais dominante é a própria linhagem, ou seja, os filhos de super-numerários possuem privilégios em relação à incorporação como membros ou em cargos de governo, como secretário, diretor, sub-diretor etc. Este critério é tão forte hoje que já começa a se sobrepor ao da instituição de ensino a que pertence a pessoa.

O “povo escolhido” também utiliza como critério de seleção de membros, a doutrina da “raça pura”, que significa escolher pessoas dotadas com características físicas determinadas. Na obra não cabem deficientes físicos, ou ainda, homens com aspecto afeminado (sendo esta última categoria banida conforme recomendações do catecismo da obra). Bem, isto se o homossexualismo não for visível...

Na seção feminina, há certa acentuação do critério de seleção baseada no aspecto físico da pessoa em detrimento da instituição escolar a que pertence. Nos depoimentos de ex-numerárias nota-se a afirmação de que não há “numerária feia”, pois as feias não têm vez. Ou ainda, mais explicitamente, não há lugar para “tias”. Isto pode ainda incluir outros critérios físicos, como estatura (baixinhas não entram), peso (gordinhas não entram) etc. Também na seção feminina no Brasil, há uma certa acentuação do fator econômico da família de origem, não se aceitando meninas com limitações econômico-financeiras. Esta limitação acaba atuando naturalmente quando se convida uma pessoa a fazer convívios ou retiros nas casas de campo do opus dei. Para se ter uma idéia, um retiro ou convívio custa até cinco vezes mais do que o equivalente ao cobrado por outras organizações católicas, como a RCC, por exemplo. Desta forma, a família de um freqüentador de centro tem que ter dinheiro suficiente para anualmente fazer 2 convívios de férias escolares e 1 retiro numa das casas de campo do opus dei.

Podemos ainda incluir como critério de seleção, o pré-requisito da pessoa não ser um “nerd” ou ainda, um sujeito meio esquisitão, sempre segundo os critérios "certinhos" da obra, pois a aparência pode "atrapalhar" no apostolado e afastar potenciais candidatos.

É igualmente notória a repugnância da obra por gente com espírito crítico e independente, e daí a praticamente absoluta ausência nos centros de estudantes de Filosofia, Ciências Sociais, Psicologia, Letras etc., prevalecendo estudantes de Engenharia e de Exatas ou, em qualquer caso, de faculdades nas quais o espírito crítico não seja valorizado.

Os critérios elitistas de seleção de membros não significam necessariamente que todos os membros são pessoas bonitas, inteligentes, de família rica etc. Queremos apenas expressar que a preferência de recrutamento de membros será para indivíduos com estas características. Sabe-se ainda que existem hoje na obra vários “esquisitões”, pessoas que, no entanto, não possuíam esses cacoetes quando ingressaram na obra: as condições de vida na obra é que ajudaram a gerar estas características e a rotina de anos no opus dei transformou a personalidade destas pessoas em monstrengos.

Cabe ainda citar um critério eliminatório para o ingresso na obra de numerários/as: não entram os chamados “bundões”, ou seja, as pessoas frouxas. O fundador da obra dizia que no apostolado e, conseqüentemente, na seleção de novos membros, os candidatos deveriam ter uma estrutura humana mínima e com isto eliminavam-se aqueles que não iriam agüentar o “tranco”. Para ilustrar este critério o fundador dizia: “não se pode fazer alavancas com marias-moles”.

Um costume na obra referente aos numerários/as é que todo ano, no dia 19 de março, dia de São José, o membro renove as intenções de permanecer na instituição. Neste dia, além da renovação do contrato com a obra, há uma tertúlia (restrita aos membros) em que o diretor inclui numa lista os nomes potenciais de futuros membros. Esses nomes são propostos pelos numerários, que antes submeteram esses nomes à aprovação dos diretores. O nome do membro em potencial apresentado pelo “membro real” pode ser vetado pelo diretor, caso o considere “maria-mole”. Durante a tertúlia deste dia, muitos numerários pensam (mas não falam): “Ué, como este ‘maria-mole’ entrou na lista?”. Ou ainda: “Putz, como esse ‘maria-mole’ entrou na lista e o meu candidato número 1 foi vetado?”

Este “maria-mole”, na verdade, nunca será numerário, mas reúne condições de ser cooperador ou talvez um super-numerário. Como no livro Admirável Mundo Novo, na obra os seres humanos estão catalogados em alfa, beta, gama etc., e os melhores, ou os mais gostosos, são os numerários.

Estabelecidos estes critérios de seleção do “povo escolhido” do opus dei, deriva-se a seguinte conclusão: caso um rapaz que freqüenta os meios de formação dos centros do opus dei nunca receba uma conversa na direção espiritual sobre a vocação como numerário, é porque os diretores o consideram:

  • “esquisitão”, ou nerd;
  • feio;
  • pessoa com alguma característica física indesejável;
  • não pertencente a uma instituição de ensino “top” de linha;
  • não possui “sangue azul” herdado de super-numerários;
  • limitado intelectualmente;
  • de família pobre;
  • homem afeminado (referente somente aos aspectos externos, pois há casos de enrustidos);
  • bundão, frouxo ou ainda, no jargão da obra, “maria-mole”.

Temos então a figura daqueles eternos rapazes de São Rafael (a idéia também para vale, com as devidas adaptações, para as eternas moças de São Rafael), para os quais nunca se propõe a “crise vocacional”. Como deveremos chamar a estes indivíduos? São eles os amigos do centro, os fiéis escudeiros do centro, nenhum deles é “macaco gordo”, mas vivem quebrando o galho.

Um desses rapazes — cansado de ser o amigo certo das horas incertas, mas a quem, por exemplo, sempre vedavam participar das reuniões secretas nas quais já iam os numerários que ainda não moravam no centro (os adjuntos) —, disse esse rapaz para outro: “É, meu caro, eu, nessa história, sou sempre o Totó!”

Não teríamos coragem de denominar assim o rapaz que está sempre por perto, topando qualquer parada para ajudar o centro. Mas ele mesmo se definiu como “Totó”!

“Totó” possui algum defeito muito gritante que impede o seu ingresso na tribo dos “eleitos”, embora provavelmente ele possa ser incorporado, no futuro, numa categoria inferior à de numerário. Será, com o tempo, cooperador ou, com muita sorte, super-numerário. O defeito gritante de “Totó” torna-se objeto de conversa entre o diretor e o numerário que o trata. Muitas vezes, nestas conversas, trocam-se sorrisos maliciosos referentes à limitação do “Totó”, que nunca será convidado a ser numerário. Aliás, “tratar” um rapaz que freqüenta um centro do opus dei é o termo técnico utilizado pelo numerário no apostolado, indicando subliminarmente algo inferior ou subalterno como um paciente (tratar um paciente...), ou um cachorro, um cavalo, um burro...

Num centro do opus dei a presença de “Tótó” garante certa tranqüilidade para os numerários, pois ajuda a manter a consciência sedada em relação às metas apostólicas, à venda de livros da Quadrante, às cotas de retiros ou convívios. Ou seja, na hora em que o negócio “aperta”, “Totó” é a salvação dos numerários. Ele sempre vai ao retiro, ele sempre aceita fazer a romaria, ele sempre topa fazer uma visita aos pobres, ele sempre compra mais um livrinho da Quadrante...

O papel de “Totó” é também quebrar certos “galhos” num centro. Por exemplo, “Totó” pode dar carona para a moçada ir a um retiro ou a um convívio de São Rafael. Ou ainda, “Totó” pode quebrar um super-galho e assumir brevemente a portaria num centro, enquanto o numerário vai ao banheiro tirar o cilício que já está lhe apertando a perna faz duas horas, ou enquanto vai lanchar rapidinho e voltar para assumir de novo a portaria... sem trazer um pedaço de bolo sequer para o “Totó”! E “Totó”, o que faz? “Totó” sempre de bom humor, sempre se santificando como não-numerário.

Como cachorro sem dono, “Totó”, no fundo, também não tem muita auto-estima, e se contenta com pouco. O pessoal do centro intui isso, e vive “paparicando” “Totó” na tertúlia, nas conversas insossas depois da meditação. Estabelece-se assim uma simbiose entre “Totó” e o centro. E por isso “Totó” sempre irá defender a obra, na terra ou no mar, no site ou na rua, pois, no fundo, é ele quem se beneficia da existência da prelazia. Ela é, para ele, a sua “muleta” psicológica, e lhe dá a grata sensação de estar colaborando para a obra de Deus...