Querida Obra

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Gostaria de te dizer como te vejo. Tu és grande, poderosa, segura, vistosa e tens muita classe. Segundo me disseste, o teu criador te concebeu de uma só vez, toda inteira, completa e divina. Que pena! Tendo nascida adulta e acabada, não pudeste ir aprendendo com os teus erros e acertos. Sendo só divina e acabada, não tens nada para aprender, só a ensinar, e as conversas contigo são monólogos. Como te jactas de conhecer a verdade, és incapaz de dialogar, discutir e caminhar sinceramente em busca da verdade.

És pescadora de almas e, como dizes em tua canção, gostas da pesca submarina, pois isto de esperar que os peixes mordam não é contigo: gostas de perseguir os peixes e a isto chamas de "coisa divina". Sei que não adianta pedir, já que sabes tudo, mas te peço assim mesmo para que não persigas mais os peixes. Espera pelos peixes que são teus. Tenta encontrar aquelas almas que nasceram para ti e fique somente com estas, deixa as outras livres e em paz para seguirem os seus caminhos, não as atormentes. A pesca divina na qual todas as almas interessam não é aquela proselitista, para afiliar as almas, é aquela que ajuda o ser humano a livremente encontrar o caminho que o leva a felicidade.

Além de pescadora, és também jardineira. Vais por todas as encruzilhadas do mundo, selecionas plantas e as transplantas para o teu jardim. Como sabes que muitas morrem após o plantio, então tu plantas cinco para que pelo menos uma vingue. As que não pegam, tu as jogas fora, para serem pisadas pelos homens. Aprende a plantar a semente, como o bom semeador, e fica à espera daquelas que germinam! Não queiras ganhar tempo nem queimar etapas. Não brinques com as almas, com os seus sentimentos e a sua felicidade!

Pescadora, jardineira e também agricultora. Tu amarraste as minhas mãos no arado e, quando consegui libertá-las, me recriminaste dizendo que aquele que tira a mão do arado não é digno Dele. O fato de ter estado contigo não me fez merecer o Reino, pois me fizeste escolher a ti não por amor, mas por dever e pela “santa coação”. Tu apenas querias que eu estivesse contigo, não se importava como eu me sentia. Me davas mais valor quando ainda não te pertencia. Uma vez que me possuíste me trataste como um mero número. Eu estava contigo, mas tu não eras minha como eu era teu.

Aqueles que tu perseguiste, na tua pesca submarina, no teu afã de os conquistar, e que não são do teu redil, só conseguem te deixar após muito sofrimento. Para não poucos esta dor começa logo no mesmo dia em que apitaram e termina somente no dia em que te deixam. Foram embora levando somente esculpido na alma aquilo que com esplendor escreveste: traidor, traidor dos teus irmãos, traidor da Igreja, traidor de Deus e condenado! Parece que tu ferras os teus com esta marca de traição e condenação como se ferram os bois de uma boiada com a marca do dono. Devias ser pastora e não boiadeira. Os cordeiros conhecem a voz do seu pastor e o seguem livremente, não é preciso marcá-los com ferro em brasa para que não se percam ou se misturem. Tens no teu rebanho cordeiros que não são teus, pois eles não te foram dados, alguns tu os caçaste, outros tu os roubaste.

Aos que se foram, levando em si a tua marca, como a um ímpio os trataste, largando-os à sua própria sorte. As suas fotos foram retiradas dos álbuns, os seus vestígios foram apagados da tua casa, eles foram por ti desprezados, fazes de conta que eles não mais existem, que nunca existiram. O passado foi apagado. Que desapego desumano tens pelos que foram teus! Estavam na tua casa trabalhando, comendo, dormindo, rezando, sorrindo e chorando, e de repente desapareceram, ninguém mais os viu. Sumiram sem despedidas, tu os condenaste e os aniquilaste. Saíram da tua casa como celerados, saíram tristes e silenciosos, furtivamente para a rua os conduziste. Acho que por seres muito divina e pouco humana não tens calor, ternura ou compaixão.

Tu que falas diretamente com Deus, e com Ele conversas, não percebeste o seu ferimento mortal e depois a sua agonia. Você provocou e prolongou o sofrimento dessas pessoas em nome da eficiência apostólica, desprezando a caridade. Tu, que és toda iluminada, não percebeu que aquelas almas chegaram até ti feridas e corrompidas pela “santa coação”. A alma delicada que foi caçada na pesca submarina já tinha sido mortalmente ferida no compele entrare.

Como és esperta e perversa! És capaz de me mostrar as cartas que escrevi aos teus marqueses, cartas que me fazias escrever, e assim me provas que eu era livre e feliz. Se eu quiser te criticar, lerás o meu nome em tuas casas e sobre mim lançarás a tua interdição, mentiras do teu imaginário dirás de mim. Se te sentires ameaçada, desqualificarás o meu nome perante os juízes para que eu não testemunhe nem te acuse.

Prometeste uma maior intimidade com Deus, a felicidade, e o caminho da santificação do cotidiano, dos afazeres profissionais, das relações pessoais. Prometeste e não cumpriste. Retiraste-me do mundo, cerceaste a minha liberdade, manipulaste a minha consciência e a minha vontade, fizeste que eu selecionasse os meus amigos de acordo com os teus interesses e puseste palavras na minha boca. Como fruto do teu modo de vida revoltei-me contra Deus, desprezei a Igreja, tornaste-me triste e desesperado, e fizeste-me desejar e pedir a morte.

Como és ardilosa e cruel com os que são teus. Aos teus membros ensinas e insistes até à exaustão, até convencer e ficar impregnado na alma, que o seu lugar, a mando de Deus, é contigo. Depois lhes dás a conhecer que podem ser expulsos. Pronto, já os tens nas mãos, fechaste com tranca forte todas as portas e violaste o profundo da suas consciências. Da tua desconfiança de delito os vigias e do teu imaginário imputas dolo em alguns. Tu os interrogas, os constranges e os aterrorizas, à espera da confissão da falta, que nem mesmo eles sabem qual foi. Inquisidora que dás inveja à KGB e à Gestapo. "Rua, Rua, Rua", a eles gritas. Infames, condenados, desgraçados tu os julgas!

Perdestes muitos dos teus, e muitos outros perderás devido à tua voracidade em crescer, a comida te cai da boca e vomitas o que já comeste e digeriste. Não folgues na tua grandeza, pois um dia uma pedra lançada por uma funda, de um pequeno que desprezas, poderá te pôr no chão e expor a tua fraqueza e a tua verdadeira cara.

Deixa que eu te diga, com sinceridade, como eu te vejo. Tu és por fora grande, poderosa, segura, vistosa e com classe, mas internamente és mesquinha, intransigente, fria, calculista, cruel, mentirosa, falsária, manipuladora, voraz, dominadora, castradora e egoísta. Cuidado, pois Deus, que tudo vê e tudo sabe, poderá rejeitar as tuas obras, e fazer valer as palavras do salmo:

Submeteste-nos ao jugo dos homens,
passamos pelo fogo e pela água;
mas, por fim, nos deste alívio. (Sl. 65,12)

Rúbio D.