Leituras proibidas

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depoimento de Debbie (todos os nomes abaixo citados são fictícios)


Como quase todo mundo, conheci a Obra por intermédio de uma amiga do colégio, Olga*. Era mês de outubro de 2000. Tínhamos acabado de entrar na faculdade, mas em cursos diferentes. Ela já estava freqüentando o centro, convidada por uma amiga da faculdade, e sabia que eu sempre pratiquei voluntariado em centros espíritas, que sempre gostei, mas me ressentia de estar parada já há algum tempo. Eu tinha muita fé em Deus e sentia a necessidade de estar mais perto dele. Olga sabia também que eu tinha um dia livre na semana, a sexta-feira, e convidou-me a dar aulas de reforço. Disse apenas que era uma instituição filiada à Igreja Católica e exclusiva para meninas. Não creio que ela tenha intencionalmente omitido detalhes; acho que não sabia mais nada além disso mesmo. Combinamos então de nos encontrarmos na semana seguinte na estação Vergueiro do metrô à uma da tarde. E eu fui, cheia de alegria por poder retornar à prática do voluntariado.

Naquela tarde, fui apresentada à diretora do centro, Marisa*, e dei reforço de Matemática para uma freqüentadora do segundo ano do ensino médio. Olga me disse que estava fazendo o curso de catecismo com a Marisa, e me convidou para assistir a aula com ela. Era sua terceira aula, mas Marisa me disse que, se eu quisesse seguir o curso adiante, ela poderia fazer uma revisão outro dia. Lembro-me que a aula foi sobre seres com e sem alma, e a informação de que todas as pessoas batizadas na Igreja acreditam no mistério da Santíssima Trindade. Tudo isso era novidade para mim, que achava que ser católico consistia em batizar-se e casar-se, além de ir à missa quando desse vontade. E mais nenhuma obrigação.

Na semana seguinte, dei aula para mais uma menina e recebi um convite da Marisa: “Se você quiser, podemos fazer um curso intensivão e aí você pode ser crismada no final do ano. O que acha?”. Eu, que não estava a fim sequer de fazer o catecismo, respondi que não, que não era bom fazer as coisas com tanta pressa, era melhor deixar rolar.

Nas semanas seguintes, como eu já tinha aprendido o caminho, ia sem a Olga. O centro ficava praticamente vazio naquele dia e horário, pois não havia atividades programadas. Numa dessas tardes, já no final de dezembro, quando não tinha mais alunas e sem ter muito para fazer, fiquei um tempo conversando com a Marisa e contei-lhe que tinha muita dificuldade em arranjar um namorado. Nenhum homem queria saber de compromisso... Ela me recomendou que pedisse em minhas orações para encontrar um homem bom e decente, e certamente Deus atenderia. “Mas não é errado pedir namorado em orações?”. “Claro que não! É uma parte essencial de nossas vidas”. E, como eu era uma estudante dedicada, podia pedir ajuda ao beato Josemaría, fundador do Opus Dei, ao qual o centro estava ligado; ele intercederia por mim, pois é o protetor dos bons estudantes. Esta foi a primeira ocasião, após mais de dois meses freqüentando o centro duas vezes por semana – também ia às segundas à tarde, depois da aula – em que ouvi os nomes Opus Dei e beato Josemaría. Elas procuram esconder a Obra enquanto não adquirem confiança nas novatas...

Durante as férias, não freqüentei o centro. Minha avó faleceu e passei um mês no sítio onde ela morava com as minhas tias. Talvez nem tivesse tarde livre na semana para ir para lá, mas fui reprovada numa disciplina no semestre anterior na faculdade, o que me impedia de cursar a disciplina oferecida às quintas-feiras. E quer saber? Fiquei muito contente com essa reprovação, pois assim eu poderia continuar com o voluntariado. Ia ficar um ano atrasada no curso, mas valia a pena (que cabeça, meu Deus...). Também gostava de lá porque não se falava sobre homens, e eu me sentia mais “igual”, menos amargurada por ser um fracasso com os namorados. Lá ninguém namorava e não reclamava. E eu descobri que também poderia ser feliz sozinha.

Em abril, recebi das meninas dali a notícia de que elas estavam com uma nova freqüentadora geógrafa, Jéssica*, que estava louca para me conhecer. Uma semana depois, conseguimos nos encontrar, ela chegando e eu indo embora. Ela me contou que havia se formado na Universidade Federal do Paraná, especializada em Climatologia, e veio para São Paulo interessada em fazer o mestrado na USP, com o nosso professor de Clima, e mostrou-me seu trabalho de conclusão de curso. Naquela época, meu melhor amigo, meu monitor e meu professor favoritos eram justamente climatólogos, e dessa forma eu estava me sentindo muito atraída por essa área. Nem é necessário dizer que a amizade entre Jéssica e eu foi instantânea. Na semana seguinte, quando encontrei com ela, pedi seu telefone, e ela me respondeu: “Você tem o telefone daqui do centro?”. “Tenho”. “Então, ligue para cá e peça para me chamarem”. “Você fica aqui o tempo todo?”. “Eu moro aqui”. E foi assim que eu soube que o centro era também um local de moradia.

Passávamos muito tempo conversando sobre a Geografia e a Climatologia e as possibilidades do mestrado nessa área. Entretanto, ela não ia à faculdade conversar com o meu professor, apesar de eu sempre ter recomendado. Já ela me assediava muito para freqüentar o centro às quartas-feiras, quando tinham as palestras culturais, chamadas tertúlias, e a meditação com o sacerdote. Era impossível, pois eu tinha aula de iniciação à pesquisa à tarde e minha amada aula de Climatologia I à noite, que eu não trocaria por nada (essa eu não queria reprovar!).

Minha fama de excelente professora estava crescendo no centro, e então eu fui convidada a dar aulas também para as meninas da administração, um tipo de empregadas domésticas, mas teria que ser aos domingos porque durante a semana elas trabalhavam e não tinham tempo para estudar. Aceitei, e fui muito felicitada pela Marisa, que me disse que, por conta desse trabalho, receberia muitas graças, pois são essas meninas que sustentam a Obra com seu indispensável trabalho, especialmente numa casa tão grande e com tanta gente. O padre Josemaría gostava muito delas. Quer dizer, gostava de todas, mas por elas ele tinha um carinho especial, por conta de sua dedicação. E quem as ajuda, então, recebia dele um carinho mais especial ainda.

Morar em São Bernardo e estudar na USP todos os dias não é tarefa das mais fáceis. Perdia muito tempo presa em congestionamentos, e a coisa era muito pior quando chovia e as cidades sofriam alagamentos. Desde o ano anterior, um amigo (de Santo André) e eu estávamos procurando um lugar mais próximo da faculdade para morar, até que no final de maio ele descolou uma vaga com uns amigos num alojamento no CRUSP. Foi só abrir uma vaga no alojamento feminino que ele arranjou com a galera para mim. Talvez tenha sido uma das maiores alegrias da minha vida: não ter que me preocupar em me deslocar todos os dias, ter mais tempo para estudar, ficar mais tempo com os amigos, morar com gente jovem... Foi uma fase muito linda e produtiva. E o melhor: na semana seguinte, eu já estava namorando. Reinaldo* morava num apartamento do CRUSP, fazia o curso de Química e era o menino mais cobiçado da região. Mas sua escolhida fui eu.

Em meados de junho, meu pai sofreu um derrame cerebral. Lembro-me que rezei muito, a noite toda, ao padre Josemaría, para que preservasse sua vida e sua saúde. Vivo ele saiu, mas ganhou uma hemiplegia no lado esquerdo. Passou dez dias no hospital. Mas minha fé era inabalável. Já havia aprendido a rezar o terço com as meninas da administração, e tinha várias estampas com a oração ao padre Josemaría, que eu distribuía aos amigos, colava em cadernos. Rezava o tempo todo: o terço duas vezes ao dia e a oração do padre Josemaría pelo mesmo três vezes. Nunca perdi a fé nem a esperança.

Permanecer no CRUSP não foi fácil, pois tive que enfrentar uma série de burocracias e de perseguições das assistentes sociais, pois minha renda familiar estava um pouco acima do limite para morar lá. Para completar, meu namoro durou apenas seis semanas; era mais um homem que não queria saber de compromisso. Entretanto, minha fé só crescia. Acreditava estar sendo castigada pela minha desobediência, pois saí de casa contra a vontade de meus pais. Deus mostrava-se a mim nas graças, mas também nos castigos. E eu aceitava-os passivamente, nunca blasfemei, nunca pedi o fim desses sofrimentos, apenas muita força e sabedoria para enfrentá-los.

Vendo esse exemplo de fé, Jéssica começou a me oferecer aulas de catecismo. Neguei no começo, pois não queria me envolver tanto. Porém, a fé foi se fortalecendo de tal forma que aceitei a doutrina a partir de agosto, quando voltassem as aulas da faculdade. Naquele semestre, elaborei meu horário de modo a não cursar disciplinas às quartas feiras à tarde ou á noite, para poder freqüentar as meditações do centro. Jéssica ficou muitíssimo feliz com tudo.

A fase inicial do catecismo também foi muito feliz. Fui descobrindo o quanto Deus ama seus filhos, quantas alegrias Ele teria reservadas para mim e o quanto eu poderia conhecê-Lo e, ao final dos dias, contemplar Sua face por toda a eternidade. Era a menina mais exemplar do centro; todas ali me amavam muito e me orientavam nesse novo caminho.

Lá pela terceira aula do curso, surgiu a primeira dúvida: o problema da liberdade humana. Se Deus é onisciente, como pode o homem ser livre? Se Deus conhece nosso destino, porque conhece tudo, sabe que decisões tomaremos na vida e se, ao final, iremos para o céu ou para o inferno. Sabe tudo isso antes mesmo de nos criar. Então, por que criaria uma alma, um filho, sabendo que ele acabará seus dias no inferno? Era uma terrível contradição. Jéssica me respondia dizendo que Deus é onisciente e o homem é livre; é tudo o que podemos saber. “Ah, não sei, só sei que é assim!”. Depois, veio o mistério da Santíssima Trindade. Mas Jesus rogou na cruz: “Pai, por que me abandonastes?”. Passou a vida toda orando ao Pai. Como alguém pode orar para si mesmo? Também me assolava o problema do mal: se Deus é infinitamente bom, como pode permitir a existência do mal no mundo? A estas dúvidas, Jéssica me respondia que “Algumas verdades nós só conhecemos pela fé mesmo. E não me venha com essa mentalidade de geógrafa, querendo entender o mundo, porque você não vai conseguir. Algumas coisas não dá para entender mesmo, só pela fé”. Enfim, há mistérios, e eles devem ser aceitos sem discussão, não nos preocupando se não o compreendêssemos. A resposta era sempre idêntica.

Eu me sentia muito culpada em ter essas dúvidas. Jéssica dizia que eu não deveria tê-las, muito menos pensar sobre elas. Era o demônio quem me plantava essas dúvidas, por estar descontente por eu estar seguindo o caminho de Deus. Também estaria me faltando fé, e então ela me emprestou um livro chamado “A fé explicada”, para que eu compreendesse por que se deve acreditar no que diz a Igreja. Mal sabia eu que essas minhas dúvidas já haviam tirado o sono de dezenas de filósofos muitos séculos antes de mim...

Uma das passagens do catecismo inspirou-a a querer fazer um estudo comparativo. Era o ensinamento sobre a ressurreição. “Então, Debbie, algumas religiões não pregam a ressurreição, mas sim a reencarnação. Mas, como a gente pode ver aqui, essa idéia é falsa, o que existe é a ressurreição. Um dia, se você quiser, nós podemos estudar um pouco as outras religiões, para você ver os pontos de falha que elas contêm”. “Olha, vai me desculpar, mas em matéria de outras religiões, eu acho mais fácil eu dar aula para você. Mas o que eu gostaria mesmo é conhecer um pouco da filosofia de São Tomás e Santo Agostinho”, o que nunca se concretizou. Esta foi a primeira vez que ouvi alguma crítica a uma outra religião.

Incomodava-me muito também a insistência da Jéssica em ressaltar o valor da Santa Pureza. Não pelo assunto em si, mas eu tinha decidido fazer o catecismo para conhecer melhor a vida de Jesus, mas Ele era de quem ela menos falava. Noventa por cento do tempo o assunto era a pureza. Enjoava. Sem que eu nunca tivesse lhe contado uma única vírgula sobre minha vida sexual, parecia que ela queria me dizer: “Debbie, eu sei que você não é casta, mas precisa ser, porque isso é um pecado gravíssimo”. Lembro-me exatamente das palavras que ela usou quando ensinou sobre o pecado por pensamento. Quantos exemplos desse tipo de pecado podem ser dados? Pois o escolhido foi esse: “Por exemplo, Debbie, eu estou lá, fantasiando o maior clima com o meu namorado... Bom, só faltou fazer, porque na minha cabeça já rolou de tudo!”. Chegou até um momento, lá pelo final do curso, que ela ia dar um exemplo e de deteve: “Não, chega de falar de pureza!”... Não conseguia aceitar que a preservação da virgindade deveria ser a principal preocupação do cristão, quando há tanta fome, guerra, pobreza e injustiça no mundo. Um bom cristão, eu pensava, deveria ter como prioridade a preservação do planeta e da vida de seu semelhante, não de sua genitália. Se eu passasse o tempo todo seguindo os conselhos da Jéssica, preocupada em fugir das ocasiões de pecado – cuidar da minha roupa, meus gestos com os homens, meus olhares, minhas palavras, meus pensamentos – definitivamente não sobraria tempo nem força para cuidar dos outros, melhorar a vida dos que vivem ao meu redor.

Isso era patente nas meninas que eu acompanhava no estudo, tanto as freqüentadoras quanto as meninas da administração. Sabiam todas as orações, todas as histórias do Nosso Padre, toda a doutrina católica. Em assuntos como Matemática e Química, porém, eram mais que fracassadas. Como eu já disse, estudava com elas aos domingos porque elas não tinham tempo para estudar durante a semana, pois trabalhavam na Obra. As aulas estavam marcadas para começar às dez. Eu chegava lá aos quinze para as dez, quando elas já tinham assistido à missa e começavam a rezar o terço. Depois, tinham mais meia hora de leitura de uma biografia de Nosso Padre. Na prática, o estudo começava somente às dez e meia. Elas eram divididas em dois grupos: metade (sempre duas ou três) ficava comigo enquanto a outra metade ia preparar o almoço. Aos quinze para o meio-dia, tocava o telefone, chamando-as para almoçar. Era o fim do estudo, não importando quantas dúvidas ainda restassem. Ninguém podia se atrasar, pois tinham ainda muito trabalho pela frente. Após o almoço, tinham tertúlia e iam servir as moças do centro. As refeições eram somente para elas; nunca me convidaram nem perguntaram se eu tinha algo para comer. Daí eu saía e tomava um lanche na padaria, para então voltar ao trabalho. Às duas horas, o restante das meninas estava liberado para estudar comigo, mas o estudo deveria ser interrompido antes das quatro, quando começava a meditação com o sacerdote. Quando ela acabava, todas retornavam ás suas tarefas. Para mim, estava bem claro por que elas iam tão mal nos estudos, em todas as disciplinas: elas simplesmente não tinham tempo para estudar. Todas as dúvidas acumuladas em uma semana deveriam ser resolvidas comigo em no máximo duas horas, tempo que deveria também ser suficiente para estudar para todas as provas marcadas na semana, fazer mapas, redações e pesquisas. Uma tarefa simplesmente inexeqüível. Mas o importante era que tinham o Nosso Padre ao seu lado, e que estavam se santificando com todo esse trabalho.

Por conta de toda a minha dedicação, disseram-me que foi uma pena que naquele ano não estava programada a entrega do prêmio “Voluntária do ano”, senão ele certamente seria meu. Mas acho que não foi bem assim. Deve ter havido o prêmio, mas ele não foi para mim porque não ficaria bem entregá-lo a quem não fazia parte da obra, nem sequer era católica.

Em agosto, elas me convidaram a ministrar uma tertúlia em Geografia. Eu já havia me decidido pela Climatologia como área de especialização, mas não sabia que tema tratar. Fui então pedir uma idéia ao nosso monitor de Clima no semestre anterior, que me sugeriu trabalhar o tema das mudanças climáticas e o sensacionalismo feito pela mídia com elas. Preparei a tertúlia e ministrei-a em setembro. A reação delas foi muito negativa: não gostaram das minhas críticas ao modo como as mudanças climáticas são tratadas e consideraram-me anti-ecológica. Esse pequeno incidente, mal sabia eu, guiaria todo o resto de minha carreira. Escolhi o tema das mudanças climáticas para desenvolver em meu TGI e meu mestrado, sempre tendo em mente aquela tertúlia e a reação das meninas, que eu desejava combater.

Em fins de setembro, fui convidada para participar de um retiro na Casa do Moinho, em Cotia. Todas sabiam que eu não tinha dinheiro (R$75), mas elas tinham uma bolsa – alguém que pagou, mas não para si, e sim para dar oportunidade para outra pessoa. Respondi que sim na hora. Jéssica: “Mas é sim assim, não vai nem pensar?”. “Não. É de graça, eu tenho tempo, é seguro, vou sim”. A maioria das meninas que iriam eu não conhecia. Combinamos que elas iriam me pegar de carro em frente ao Rei das Batidas na sexta-feira às seis da tarde.

A Casa do Moinho era muito linda e simples, num clima bem camponês. O retiro era basicamente constituído de missas, meditações, bênçãos, palestras com as diretoras, orações e leituras pessoais. Uma das palestras, no sábado de manhã, foi sobre a pureza – básico... Iracema* iniciou-a dizendo “Em primeiro lugar, ninguém é obrigada a concordar com o que eu vou dizer. Embora seja a verdade, mas...”. E encerrou-a assim: “Alguns podem até dizer que os tempos mudaram e que o homem mudou. Ora, os tempos não mudaram e o homem não mudou coisíssima nenhuma!”. Considerei tudo aquilo o cúmulo da negação do mundo. Se o homem não mudou, quer dizer que ainda somos os mesmos das cavernas? Perdão: os mesmos da Arca de Noé? Isso é negar todos os progressos na ciência e na filosofia.

Depois do almoço, senti vontade de fazer minha primeira confissão. Comuniquei à Iracema (ela não estava fazendo retiro, apenas coordenando tudo), que me orientou a fazer um exame de consciência (identificação dos pecados e arrependimento), comunicá-los ao sacerdote e cumprir a penitência. Como a confissão redime completamente os pecados, achei que me confessando estaria livre também do duro sofrimento que sentia pelo Reinaldo ter me abandonado. O sacerdote também pediu que confessasse pelo menos os principais pecados cometidos nos vinte anos anteriores (minha idade então). Cumpri a penitência e fui conversar com a Iracema, que estava muito feliz pela minha primeira confissão. Perguntou-me como ia o catecismo e quando eu pretendia fazer a primeira comunhão. Respondi que não sabia se ia fazer, pelo menos não logo, porque ainda tinha algumas dúvidas e, no fim das contas, não acreditava que existisse apenas uma religião verdadeira, muito menos qual ela seria. “Bem, tudo bem, minha opinião é outra, mas você não acha que mesmo assim você deveria ter uma religião?”. Respondi que não. Ela não soube o que dizer. Pedi-lhe para puxar o terço (comandar a oração) naquela noite, e ela respondeu: “Hoje já tem uma menina reservada, mas amanhã não; pode ser você”.

Sentia muita serenidade no domingo; estava livre de meus pecados e, quando voltasse a São Paulo, não pensaria mais no Reinaldo. Também estava decidida a, daquele momento em diante, observar a castidade. Cumprir todos os conselhos da Jéssica à risca. Tinha passado tanto tempo de minha vida muito bem assim, e poderia continuar, esperar o casamento. Dessa forma, nenhum outro homem se aproveitaria de mim. Na hora de puxar o terço, porém, Iracema se “esqueceu” do meu pedido e deu-lhe para uma outra menina, já membro. Voltamos para casa no final da tarde. Ao passarmos pelo Parque do Ibirapuera, vimos ali um grupo de umbandistas, cantando e dançando em roda. Todas as meninas no carro ficaram chocadas, diziam que tinham medo e pena dessas coisas. Eu fui a única a permanecer calada, pois não via nada de mal em umbandistas.

Meu catecismo não ia nada bem. As dúvidas não cessavam; as recomendações sobre a pureza eram constantes, e começavam a surgir as obrigações. Como eu era batizada, tinha por missão levar a mensagem de Deus ao mundo e acreditar no dogma da Santíssima Trindade. Achava aquilo absurdo; fui batizada aos quarenta dias de vida, ninguém me perguntou se eu acreditava em Santíssima Trindade ou se queria fazer apostolado. Jéssica queria saber tudo da minha vida e rotina nos mínimos detalhes – Como foi a sua aula hoje? E ontem? E anteontem? Esse seu amigo, fale mais sobre ele. E aquela sua outra amiga? Para onde você saiu esta semana? Com quem? – e cobrava atitudes: falar de Deus para as pessoas e trazer amigas minhas da faculdade para freqüentar o centro. Toda semana ela cobrava: “Não conseguiu convencer nenhuma amiga a vir hoje? Você não está se esforçando, você não gosta do Nosso Padre nem de Deus, você está dando muita corda para o demônio, você precisa cumprir sua missão”, e por aí vai. É claro que eu sabia que nenhuma amiga minha merecia passar por uma encheção de saco daquelas.

No começo de outubro, ela me perguntou se eu queria ser crismada no final do ano. Respondi que não prontamente, e começamos a discutir. Ela me chamou de egoísta, pois não queria aceitar a Verdade e queria construir minha própria verdade; e que todas as outras religiões e crenças são falsas, só a católica é a verdadeira. “Eu não posso crer num Deus que é Buda!”, lembro-me bem. Respondi que ter uma religião diferente da católica não é ser egoísta, e contei o caso de um primo meu, evangélico, casado com uma católica e com um casal de filhos que ainda não haviam sido batizados, pois os pais queriam dar-lhes a liberdade de escolher qual religião seguiriam. Ela me interrompeu neste ponto da história, dizendo: ”A sua prima não é católica, porque se ela fosse católica teria se casado com um católico e teria se preocupado em batizar os filhos”. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Se ser católica significava considerar falsas as outras religiões, negar propostas de casamento baseadas somente na religião do marido e passar por cima da liberdade de escolha dos filhos, a egoísta tinha que ser justo eu?

Quem freqüenta um centro há pouco tempo deve estranhar a colocação de que o Opus Dei não respeita a liberdade religiosa, pois não-católicos não apenas podem freqüentar o centro, como são escalados para diversas atividades e são sempre recebidos com muita alegria e muito bem tratados. Lembro-me de uma tertúlia sobre capoeira ministrada por uma menina que vinha ao centro pela primeira vez, especialmente para a ocasião. Vocês precisavam ver o carinho que ela recebeu e a atenção dedicada à sua tertúlia; encheram-na de perguntas, uma delas sobre a função das cantigas no jogo. A menina, muito sabiamente, respondeu que elas serviam somente para animar a roda. Ora, todos sabemos que a capoeira tem toda uma religiosidade peculiar, e suas cantigas servem principalmente para invocar seus deuses, algo parecido com a umbanda. Em outra ocasião, uma nova freqüentadora, chinesa, foi submetida a um verdadeiro interrogatório sobre o misticismo chinês, chi, ba-guá e coisas assim. Pois bem, toda essa tolerância religiosa da Obra com os novos freqüentadores não passa de uma fachada para atrai-los. O interesse do Opus Dei não é converter católicos, é converter todo mundo, e isso só pode ser alcançado se for permitida e bem recebida a visita de todo tipo de gente aos centros. Uma vez que a nova freqüentadora tenha se convencido do quanto a Obra é maravilhosa e tolerante, pois o foi com ela, colocam-na para fazer catecismo. É só aí que ela começa a descobrir que deve abandonar seus antigos hábitos e crenças se quiser continuar a ser tão bem tratada ali.

Na faculdade, eu estava cursando uma disciplina na qual fizemos dois trabalhos de campo para um assentamento rural, a Fazenda Pirituba, em Itapeva, SP. Meu grupo estava estudando a religiosidade dos jovens assentados, e então tivemos que estudar movimentos como a Renovação Carismática e a Teologia da Libertação, da qual eu nunca tinha ouvido falar. Mas gostei; aquilo sim era preocupar-se mais com o bem-estar do seu semelhante do que com sua genitália... Numa das aulas de catecismo, Jéssica me ensinou que é pecado mortal comungar sem se confessar antes. “Mesmo se você estiver com três dias de fome?”. “Claro que sim!”. Tirei da bolsa um livro de Leonardo Boff e li para ela um trecho que contava a história de uma nordestina que, com três dias de fome, chegou atrasada à missa e não teve tempo para se confessar. Quando viu a comunhão, corpo e sangue de Cristo, foi comungar para ter algo no estômago e a força cristã para seguir a vida. O padre, quando soube, ficou perplexo e prometeu a si mesmo que, enquanto vivesse, ninguém mais naquela paróquia passaria fome; dedicaria toda a sua energia a reverter aquela calamidade social. Ao final da leitura, Jéssica perguntou: “Que livro é esse?”. “Teologia da Libertação”. Ela, com cara de nojo e desprezo, respondeu, “Ai, só podia ser!”. Perguntou-me como eu havia conseguido aquele livro, quem era o amigo que havia me emprestado, por que pedi, por que estava lendo e por que ele era indispensável. Sabe como é, mesmo para uma pesquisa acadêmica não se pode contrariar a Obra... Ela explicou que a comunhão não é alimento para o corpo, mas para o espírito. Perguntei, indignada: “Então essa mulher pecou?”. “Eu não sei, não posso julgar... Mas é um pecado mortal comungar sem se confessar antes”. Meu inconformismo foi total. Ela simplesmente não entendeu o que eu queria dizer. Será que uma pobre vítima das condições sociais deveria ser considerada em pecado mesmo assim? Que Deus intolerante é esse? E ela ainda me deu uma bronca porque eu guardava o livro de Boff no mesmo saquinho onde eu guardava Caminho! Pediu-me que me livrasse daquele livro, daquele amigo e daquela disciplina o mais rápido possível.

Intriguei-me. Se eu tivesse que selecionar dessa maneira todos os livros que lesse, como ficaria minha carreira acadêmica? Como pode a ciência se desenvolver sob uma censura dessas?

Em outra disciplina, visitamos a Estância Demétria, uma fazenda antroposófica em Botucatu, SP. Encantei-me demais com tudo aquilo. Contei para a Jéssica que estava interessada em fazer um curso de Pedagogia Waldorf, e ela tentou me convencer do contrário, dizendo que eu ia gastar dinheiro à toa, não precisava de um curso desses para adotar práticas pedagógicas diferenciadas em sala de aula. Quando fosse cursar a licenciatura, ia aprender coisas muito mais legais (quem sabe o que é a licenciatura na USP deve estar se matando de rir...). Claro que eu sabia que o problema não era esse, mas sim a incompatibilidade entre a antroposofia e o catolicismo. Mas ela não quis tocar no assunto e ficou só nas superficialidades.

No final de outubro, peguei emprestado na biblioteca do Instituto de Psicologia da USP um livro de Rudolf Steiner chamado Teosofia. É uma obra introdutória ao que o autor desenvolveria posteriormente como a antroposofia. Milagrosamente, foi nesse incidente que conheci meu amado marido... No dia seguinte, no centro, deixei o tal livro sobre a mesa enquanto estudava com Angélica*, minha aluna mais assídua, apenas freqüentadora, quando apareceu a Marisa. Ao ver o livro, perguntou-me muito séria por que eu estava lendo aquilo. Respondi que havia feito um trabalho de campo na faculdade que me despertou o interesse no assunto. Ela disse que aquilo era anti-cristão, e que dava pena ver uma moça que antes era tão inteligente, doce e direita se acabando assim. Engoli em seco. Na semana seguinte, como Angélica estava demorando a chegar, aproveitei o tempo para rezar o terço na capela. Estava quase terminando quando ela chegou, acompanhada da Marisa, que me perguntou: “A gente atrapalhou seu terço?”. “Não, já estava terminando”, respondi seca e sem olhar na cara dela. “Você ficou chateada com aquilo que eu te disse semana passada?”. “Não”. “Mas você acredita em mim?”. “Isso já é outra história”, e fui estudar com a Angélica. A partir de então, não se passou um só dia em que a Marisa não viesse fiscalizar nosso estudo; queria saber tudo o que estávamos discutindo, mesmo que fosse apenas progressão aritmética.

Jéssica andava brava comigo. Eu não trazia amigas para o centro, as dúvidas não cessavam, eu não aceitava os dogmas – o mais novo problema era a transubstanciação. Quando não se aceita os dogmas mais básicos, dificilmente se crê em todo o resto. Uma vez ela disse que eu não queria me converter porque não queria ser casta e porque seria custoso acordar cedo aos domingos para ir à missa. Fiquei uma fera. “Eu acordo todos os dias antes das seis para fazer minha caminhada, por que não conseguiria acordar às sete para ir à missa?”, e ela ficou sem palavras. Ela achava a Obra tão maravilhosa que não concebia como alguém poderia não querer se converter. “Se você não quer ser católica, azar o seu, porque é uma maravilha!”. Inventava motivos fúteis, pois os não convertidos são fúteis. Se alguém não queria se converter, só poderia ser por motivos da carne, só poderia ser uma pessoa que se preocupa mais com a carne do que com o espírito. “Vai te custar viver a castidade? Comunga com mais freqüência. Isso vai te fortalecendo”. O problema era que eu não acreditava como comer um pedaço de pão poderia diminuir o apetite sexual.

Muitas vezes eu respondia agressivamente às cobranças. “Debbie, faz tempo que eu quero te falar isso: toda vez que eu te cobro alguma coisa, ou você chora ou você me agride. Eu acho que amizade não é isso”. E voltava a cobrar: “Falou de Deus para alguém? Deu alguma estampinha do Nosso Padre esta semana? E suas amigas, não querem vir?”. Respondia que eram todas atéias. Aí sim as cobranças se intensificavam: “Mas é justamente por isso que você deve levar Deus para elas! Você é sal, você tem essa missão! Deus te escolheu para converter as suas amigas!”. Recomendava-me fazer pequenos sacrifícios: “Se por exemplo, Debbie, você gosta de comer cinco colheres de arroz no almoço, coma quatro colheres e meia, e essa meia que você não comeu ofereça a Deus pela conversão dos pecadores. Você não sabe o valor desses pequenos sacrifícios. Podem parecer pequenos, mas para Deus eles valem muitíssimo”. Eu apenas não consegui entender como a meia colher de arroz não comida deveria saber que sua missão era converter os pecadores. Mal sabia eu que isso já era uma pequena introdução para os sacrifícios que viriam posteriormente caso eu entrasse para a Obra.

Eu sofria demais. Minha confissão, ao contrário do que pensei, não conseguiu apagar o desgosto do abandono do Reinaldo. As dúvidas me atormentavam noite e dia. Eu gritava com o demônio para ele se afastar de mim! Ao mesmo tempo, tentava mostrar as contradições da doutrina para a Jéssica, que as repelia imediatamente. Faltava-me fé, ela dizia. E me emprestou um livro chamado “O Credo”, que explicava os fundamentos básicos da doutrina católica. Eu não queria largar o curso, mas também não queria continuá-lo dessa forma. Todas as contradições eram para mim tão evidentes que eu não conseguia entender como elas não conseguiam enxergar. Até que um dia conversei sobre isso com meu novo amigo, Rodrigo*, futuro marido, que me disse: “Ela não vai mudar. A religião dela não vai mudar. Ela está sendo coerente com a sua fé. Quem está sendo contraditória aqui e não percebe a contradição é você”. Daí eu desisti. Compreendi que não importava quantos pobres, quanta poluição e quantas guerras existissem no mundo; a prioridade delas seria sempre a Obra e a Igreja Católica; se sobrasse tempo, Deus e Jesus. E não seria eu quem conseguiria apagar dois mil anos de dogmatismo e setenta de fanatismo. Na semana seguinte, já em dezembro, comuniquei à Jéssica minha decisão de interromper o catecismo. Ela ficou triste, mas disse que não perdia as esperanças e agiria mais devagar a partir de agora.

Ela foi passar as férias na Casa do Moinho, de onde me enviou uma carta comunicando a decisão do Papa em canonizar Nosso Padre, mostrando que aquilo era um acontecimento que deveria me inspirar. Perguntou-me se eu estava lendo O Credo, e disse que o livro poderia talvez esclarecer dúvidas que a professora não tinha sido capaz, e assim talvez em fevereiro eu quisesse retomar as aulas.

Em 9 de janeiro de 2002, foi realizada uma celebração no centro pelo aniversário de Nosso Padre e anúncio de sua canonização. Todas nós tivemos que beijar um relicário que continha um pedaço de um dente do Nosso Padre. No dia seguinte, Rodrigo e eu começamos a namorar.

Ainda continuei freqüentando o centro; ele nunca me impediu de nada. Mas Jéssica tinha muito medo de que ele pudesse ser a verdadeira causa de meu afastamento. Ela não percebia que o que me levou a desistir do catecismo foi o bloqueio à liberdade de pensamento na Obra, evidenciado nas censuras que elas fizeram às minhas leituras. Mas eu estaria sendo injusta se dissesse que elas não podem ler nada não-religioso: a leitura laica favorita da Jéssica era a ingênua série Harry Potter. Ela vivia me recomendando, dizia que era muitíssimo legal. Todas ali adoravam, e chegaram a marcar um dia para exibir o filme quando ele foi lançado em vídeo. Para mim, isso só servia para mostrar o quanto o pensamento delas é atrofiado, a ponto de negar leituras verdadeiramente construtivas e preferirem se ocupar de tamanha bobagem.

Dias antes de eu sair de viagem, em janeiro, ela me disse: “Debbie, um dia desses eu estava reparando que você tinha uma mancha no seu pescoço... [é uma mancha de nascença muito discreta, minha mãe também tem, mas na hora eu nem me toquei que poderia ser ela] Está rolando alguma intimidade entre você e o Rodrigo?”. Realmente ainda não havia “rolado” nada, mas eu achei aquela pergunta o cúmulo da invasão de privacidade e não quis responder. Ela ficou insistindo por uns vinte minutos, disse que não ia contar para ninguém, que nós éramos amigas e não deveríamos ter segredos... E eu resistia, não por medo das retaliações (mesmo porque não tinha acontecido nada ainda), mas pelo atrevimento da questão. Ela parou de insistir e disse que aquilo era muito feio, que todos os meninos na faculdade já deviam ter visto e estavam comentando “É, essa daí é danada!...”, e que as verdadeiras filhas de Deus devem ser castas, devem ter Nossa Senhora como exemplo, cuja intimidade foi inteiramente devotada a Deus.

No domingo anterior à Páscoa, elas me convidaram para ir visitar dois cortiços. Levamos alguns bombons, umas poucas roupas velhas e muitas estampinhas com a oração do Nosso Padre. Quando voltamos, na tertúlia, perguntaram-me como eu me sentia em poder ajudar os necessitados. Achei aquilo uma palhaçada. Então tudo o que elas sabiam fazer para ajudar os necessitados era dar alguns bombons e roupas velhas na Páscoa? Tudo era um pretexto para distribuir estampinhas de orações. O foco estava em divulgar a doutrina, não em ajudar os pobres.

Em julho, Jéssica me convidou para fazer um curso de metafísica aristotélica ministrado pela Natália*. Fui. Até hoje não sei por que não mandei minha amiga ir confessar sua mentira: não era metafísica aristotélica, e sim mais um curso de catecismo! Minha indignação foi total. Jéssica me chamou novamente de egoísta. Peguei minhas coisas e ia indo embora, quando ela me deteve e pediu para ficar e me acalmar. “Deus cutuca, sim. E eu sou um instrumento de Deus no seu caminho”.

Na semana seguinte, o tema da meditação foi “Aprender a questionar-se”. Tratou de importância de sabermos para que fazemos as coisas, para que elas servem. Daí eu comecei a me questionar. “O que eu estou fazendo aqui? Eu não acredito no que esse padre tem para dizer, eu passo as meditações pensando nos trabalhos da faculdade, eu não acredito no que aprendi no catecismo, eu não quero me converter. O que eu estou fazendo aqui?”. E este foi meu último dia no Jacamar. Sentia-me tão livre, tão leve... Podia ler os livros que quisesse, ouvir as músicas que eu quisesse, assistir às aulas que eu quisesse, ser amiga de quem eu quisesse...E, o que é melhor, sem achar que tudo isso era coisa do demônio.

No semestre seguinte, dei início à licenciatura. Dentre as diversas opções de horários disponíveis, fiz questão de escolher uma disciplina para as quartas-feiras á tarde, o que me impossibilitava freqüentar as meditações. Não freqüentei o centro mais nenhum dia naquele semestre, mas mantinha algum contato com a Jéssica.

Em outubro, no dia da eleição presidencial, ocorreu a canonização do Nosso Padre. Jéssica e a maioria delas foram para Roma, enquanto eu fui a uma missa celebrada no Centro Educacional de Pedreira, celebrada por Dom Paulo Evaristo Arns. Não posso deixar de confessar que conhecer Arns foi para mim uma emoção muito maior que a canonização.

No dia do segundo turno das eleições, liguei para a Jéssica, que já estava em São Paulo, para lhe felicitar antecipadamente por seu aniversário, pois não poderia ligar no dia. Ela me perguntou como eu estava, e respondi: “Estou triste porque o Genoíno perdeu e feliz porque o Lula ganhou”. “Ah, er, bem, Debbie, eu estou muito ocupada agora, tenho que desligar”. “Então eu ligo amanhã”. “Não, amanhã não, eu também estarei ocupada”. “Então tá, eu ligo outro dia”. E não liguei mais. Ah, dá licença! Quero dar parabéns pelo aniversário, e ela diz que não pode atender meus telefonemas? Não tenho dúvidas de que foi por causa da minha felicidade pela vitória do PT. Elas devem se manter afastadas de gente iníqua...

Não freqüentei mais o centro e ficamos mais de um ano sem nos falar nem ter notícias uma da outra. Hoje estudamos juntas na faculdade. Mas isso é uma outra história...