Não tenho saudades

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Olá! Bem meu nome é Márcia e quero primeiramente parabenizar pelo livro Os Bastidores do Opus Dei e pelo site. No livro me identifiquei com algumas situações, apesar de nunca ter entrado para a Obra.

Conheci o OD em setembro de 1994 em Curitiba-PR. Mas tive mesmo meu primeiro grande contato com a obra quando a "amiga" que conheci me perguntou se gostaria de fazer um curso de hotelaria em São Paulo no ano de 1996. Topei, mas não pelo curso, mas porque tinha uma inquietação no meu coração com relação a vocação. Antes de conhecer o OD já havia ido até um convento para saber como era ser uma freira, mas percebi de primeira que não era minha vocação.

E o OD, como todos os relatos, era encantadora. Todos eram simpáticos, sorridentes. Quando cheguei em São Paulo, fui bem recebida e fique lá durante um ano. Neste um ano a vocação começou a me perturbar, mas tinha muito medo e o Padre Osvaldo, com quem eu conversava, disse-me que era melhor eu ficar mais um ano para resolver a vocação e como eu namorava (meu namorado morava em Curitiba e nos vimos 3 vezes neste ano) disse-me que era melhor eu terminar o namoro para resolver essa questão. Mas eu decidi voltar, no final deste mesmo ano, para casa e não terminei meu namoro, pois amava e amo muito o hoje meu marido.

Mas depois disto a paz só veio em meu coração no ano de 2001. Foram 5 anos de angústia e dúvida. Morei no Centro da Obra várias vezes, terminei meu namoro várias vezes.

Bem depois mudei de amiga e esta nova disse-me que eu tinha vocação e o Pe com quem eu conversava também disse-me. Bem sentia-me pressionada, pois era a minha amiga e o Pe quem me falavam. Senti-me muitas vezes um jovem rico, pois diziam-me que eu não era generosa o suficiente. Bem nesses anos de angústia trabalhei muito na Obra, pois freqüentava o Labor de São Rafael das numerárias auxiliares. Fiz muito apostolado, pois mesmo sendo de São Rafael me era cobrado muito isto além de ter pedido dinheiro para esta, para ajudar na quota da minha amiga, além, dos circulos de leitura que comprei, que acreditava que estava fazendo um grande bem a quem eu dava.

Mas o que gostaria mesmo de relatar aqui foram algumas experiências dentro do Centro nos anos em que trabalhei lá.

Não me lembro agora do relato, mas alguém falou de os membros serem INTOCÁVEIS e realmente eram e são. Ao entrarem ao OD não estavam a caminho da santidade já eram santos. Me lembro de uma numerária auxiliar que não gostava de mim e um dia queixei-me para minha amiga e ela me disse que fulana não era assim, mas que eu não a conhecia. Bem a conhecia muito bem, pois moramos juntas um bom tempo e foi para mim uma tortura, pois eu sempre estava errada e tinha que mudar e não sabia ver o lado bom da fulana. Como já disseram, eu agüentei tudo em nome de Deus, pois tudo para eles era a vontade de Deus e o que eu via de errado era minha visão deturpada de tudo, egoísta e sem fraternidade. Mas o que ela me fazia era a vontade de Deus. Uma coisa que me lembro com muita tristeza, foi quando meu avô havia falecido e uma numerária caridosamente veio me perguntar sobre o fato e me dar os pêsames e essa fulana ficou na escada da administração olhando para ver o que eu respondia, e disse a essa numerária que estava triste apesar de não ser muito apegada ao meu avô. Essa fulana me olhou e subiu as escadas dando risada de mim e eu é que não era santa.

Outra coisa que me deixou muito chateada foi eu ter pedido para me registrarem quando trabalhava lá e me enrolaram e não me registraram, trabalhei durante 6 meses sem registro e quando saí pedi meus direitos e a administradora da época só me pagou as féria e disse que o resto não me pagaria, pois o OD não tinha dinheiro. Fiquei indignada e foi este fato que me fez me distanciar do OD, pois sempre ouvi dizer lá que o Nosso Padre dizia que deveria tratar os empregados bem e mesmo que faltasse dinheiro que deveria ser pago tudo direitinho, mas comigo isso não aconteceu. Mas antes de eu sair eu já havia finalmente me decidido que iria me casar e ao contrário do que todos me diziam, eu tinha certeza que não tinha vocação. Depois que tomei esta decisão no meu íntimo e falei para minha amiga e o sacertodote tive que enfrentar a indiferença de todos, pois agora eu não tinha valor nehnum, pois não seria um membro do OD. Agora as conversas eram curtas e sem muito a dizer, mas sempre com um ar de "você não foi generosa".

Confesso que para eu me libertar de tudo isso não foi fácil, mas hoje me sinto como todos nos relatos uma cristã livre e conheço um Deus diferente e não mais como um opressor, aquele que se não fizesse Sua vontade iria para o inferno. Me sinto LIVRE!!!!!!! Não tenho saudades e não sinto falta do meu tempo no OD. Vejo que foram lindos 6 anos estagnados em minha vida.

Hoje sou casada com o meu namorado do tempo do curso de hotelaria e temos um lindo filho. Hoje eu me sinto normal e vejo (e via naquela época, mas achava que era coisa da minha cabeça) que no OD as numerárias são as ricas e com faculdade e as auxiliares são as pobres com primário ou sem nenhum estudo (algumas tinham o 2º grau completo). Há uma grande distinção de classes sociais e um grande valor no OD no estatus social. Realmente era isso que definia a vocação no OD.

Quando me lembro disto fico tão indignada, como podem usar do nome de Deus para distinguir as pessoas? Lembro que as auxiliares nasciam para servirem e deveriam ser dóceis e obedientes e nunca dizer não, pois não estariam sendo generosas, mas a decisão era delas. Ou seja uma liberdade presa ao que a diretora e a administradora falasse. Mas você era responsável pela sua decisão. Que hipocrisia!!!!!!!

Espero que mais numerárias auxiliares ou meninas de São Rafael possam fazer seus relatos para tirar a trave que está bloqueando a visão de muitos e muitas que lá estão ou pensam estar.

No meu caso, trabalhei no OD várias vezes; na 1ª vez fui registrada e nas outras duas vezes não.

Outra coisa que gostaria de colocar é que um dia pedi para a minha amiga que o meu irmão fosse em uma meditação no centro masculino. Sabe o que ela me respondeu? Que meu irmão (por ser pobre) não se sentiria bem, pois todos iriam de terno e gravata e que era melhor ele procurar um padre do OD em uma paróquia. É mole? Que obra é essa que é para todos? Ah! Todos que são ricos é claro.

Quando morei no centro não tinha tempo para nada. Realmente o trabalho era tanto que não dava para pensar em nada a não ser nas normas e no trabalho e quanto trabalho. Estar no meio do mundo não é estar a par da vida política do país, da cidade? Conversar com uma amiga sem precisar levá-la ao centro? Ter amizades desinteressadas somente para ver a pessoa crescer e progredir na fé?

Infelizmente para o OD estar no meio do mundo é ser obediente e saber servir. Sabe que essa minha amiga um dia me falou que quem obedece nunca erra, mas quem manda sim. Eu sou uma marionete ou um ser humano? Penso que para a OD as numerárias auxiliares são marionetes ou melhor zumbis que fazem, fazem e não pensam em nada.

Uma amiga que frequentava o centro comigo me falou que a sua amiga da OD disse para ela vestir roupas mais folgadas, pois seu corpo chamava atenção e ela respondeu: "Como arrumarei um namorado me vestindo assim?" Ela não respondeu nada. Quando estive em São Paulo ganhei uma saia, linda por sinal, mas não me deixaram ficar com ela pois ficava certa em meu corpo e chamava atenção. Isso que eu nem era da OD! Simplesmente pegaram a saia e pronto.

Agora tem um pensamento que acho muito medieval que acontece no OD, que é pensar que a diretora é a porta-voz da vontade de Deus e que a amiga sabe mais que você, pois ela é entregue a Deus e você não. Pode!? Bem, foram esses fatos que lembrei. Gostaria também que entrassem em contato comigo caso surja alguma dúvida ou simplesmente para nos correspondermos.

Abraços.

Márcia