Lorotas

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Caro Mariano,

Parabéns pelo site; está muito interessante.

Comecei a xeretar pela seção “fala sério”, e acabei caindo na página oficial da opus no Brasil, onde aparece aquele texto assinado pelo Pe. Vicente (não entendo como ele teve coragem de assinar aquilo), no qual é narrado o relacionamento entre a opus e seu fundador e Dom Paulo Evaristo Arns .

Quando li o artigo, percebi que o arsenal de lorotas da prelazia não tinha sido fechado após o sucesso do “projeto canonização do fundador” (Obs: esta expressão, “projeto canonização do fundador”, era usada por alguns diretores centrais da opus no Brasil para designar o conjunto de estratégias e manobras empregadas para canonizar Escrivá).

Por outro lado, fazendo o possível para amenizar a trapaça, pode-se pensar que o artigo não foi escrito só para passar uma imagem politicamente correta da opus no Brasil, mas também como uma espécie de ato de desagravo pelas inúmeras críticas que Dom Paulo recebia dos dirigentes da opus durante os anos em que foi arcebispo de São Paulo.

De fato, durante os meus 20 anos como numerário, não me lembro de ter ouvido nenhum comentário positivo dos diretores da opus no Brasil sobre Dom Paulo. Pelo contrário, sem citar explicitamente o nome de Dom Paulo, eram comuns as imitações jocosas do seu jeito de falar, acompanhadas de acusações e críticas. Davam a entender através de insinuações e indiretas, em conversas das quais participavam às vezes dezenas de numerários, que Dom Paulo não tinha a menor “visão sobrenatural”, que instrumentalizava a igreja para fins políticos, que incentivava o ensino da teologia da libertação de cunho marxista nos seminários, que permitia a entrada de homossexuais nos seminários, etc. Aquilo que é louvado no artigo, isto é, a preocupação de Dom Paulo pelos presos políticos e pelos pobres, era comentado como um desvio das suas atribuições enquanto membro da hierarquia da igreja. Enfim, Dom Paulo era apresentado como uma espécie de herege, ao lado dos irmãos Boff e companhia. Deixo claro que, nessas críticas e acusações feitas em público, Dom Paulo não era citado nominalmente, mas os comentários eram feitos de modo a não deixar dúvidas sobre quem era a vítima. Esse tipo de atitude é usual na opus e chega a criar jargões internos. Por exemplo, para designar os jesuítas, contra os quais Escrivá investia habitualmente (Escrivá dizia que os jesuítas o perseguiam por sentirem inveja do sucesso da opus no ambiente universitário; nunca consegui descobrir se essa desavença entre Escrivá e os jesuítas era real, imaginária, ou se Escrivá estava aplicando a velha tática de simular um inimigo externo para manter a coesão interna da opus), era empregada a expressão “os de sempre”. Essa expressão aparecia inclusive em documentos internos da opus que eram mandados pelos diretores centrais da instituição para os diversos centros espalhados pelo mundo. As críticas feitas contra Dom Paulo surgiam em conversas nas quais se comentavam os problemas da igreja durante as décadas de 1970 e 1980. Por exemplo, criticava-se “esses membros da hierarquia que saem por aí defendendo presos políticos ao invés de ensinarem a boa doutrina”, ou então, “como pode um arcebispo subir em um altar com negras seminuas?” (referiam-se à Missa dos Quilombos...), e também, “esses membros da hierarquia que transformam os sermões em discursos do PT” (Obs. Evidentemente o PT da época era bem diferente da versão “light” do séc. XXI). Essas críticas eram dirigidas explicitamente contra Dom Paulo em conversas privadas, e desta forma, quando o assunto era comentado em público, todos sabiam de quem se estava falando e não era necessário explicitar nomes. Após as acusações costumava-se dizer “bem, é melhor não falar mais nada, pois quando não se pode louvar é melhor calar”, ou ainda, “devemos rezar pela conversão dessas pessoas” (o que aliás é uma recomendação muito boa). Ressalto que esse tipo de tema (falar sobre bispos, etc) não era muito freqüente; mas quando o assunto saía, descambava para o que foi descrito acima. Penso que esses comentários negativos manifestavam muitas vezes defeitos de caráter das pessoas que os proferiam, que sem saber praticar o preceito de “condenar o pecado e salvar o pecador”, deixavam-se levar por uma certa indignação rancorosa contra aqueles que eram considerados inimigos da igreja. Talvez essas críticas até incluíssem uma “boa intenção imunizadora”, visando deixar claro em quem os numerários não deviam confiar. Assim, se caísse nas mãos de alguém algum texto escrito por Dom Paulo, seria lido com desconfiança, ou até evitado, como se tivesse sido escrito por Marx ou Lênin. Por outro lado, a postura oficial da opus (aquela que é divulgada na imprensa) é a de atuar sempre em sintonia com os bispos das dioceses nas quais há centros instalados.

Com relação ao Centro Educacional da Pedreira, no qual o Mauro M. “Queller” e eu fomos os primeiros professores (demos aulas lá no ano da inauguração, em 1986), os dirigentes da opus comentavam que a motivação para a criação da escola era “calar a boca desse bispo que fala que a opus não tem preocupação pelos pobres”. Era uma preocupação social de fachada, mas que, graças ao empenho sincero de numerários e adscritos bem intencionados, muitos dos quais já saíram da opus, contribui também para a melhoria das condições humanas dos alunos e freqüentadores da escola (Obs. Infelizmente nunca fui dos bem intencionados; até fiquei aliviado quando parei de dar aulas lá).

É possível que com o passar dos anos as opiniões dos dirigentes da opus no Br. tenham amadurecido um pouco, e que talvez o próprio Dom Paulo tenha revisto algumas das suas posições, o que teria possibilitado uma aproximação menos “cautelosa”. O artigo assinado pelo Pe. Vicente talvez seja uma forma de selar a sincera amizade...

De qualquer forma, penso que teria sido mais autêntico, além de moralmente correto, ao invés de mentir sobre as divergências do passado, e negar décadas de críticas e acusações, ressaltar apenas as virtudes e realizações de Dom Paulo, que soube manter-se firme na defesa de suas convicções ao invés de ser conivente com as arbitrariedades cometidas pela ditadura militar. Se a opus continuar com a sua obsessão “Orwelliana” de falsificar o passado, é possível que o próximo conto da carochinha escrito para enganar os incautos seja intitulado “Sacrifícios heróicos do glorioso Marquês de Peralta em favor dos perseguidos políticos da ditadura Franquista”...

Demétrio Zaxariadhis


(Sobre o Marquês de Peralta, recomendo a leitura do livro “LOS AÑOS MENTIDOS”; Autor: Ricardo de la Cierva. Editorial Fénix; o texto é isento de preconceitos e apresenta também diversos comentários positivos sobre a opus e seu fundador.

Enquanto ouvinte desses comentários eu não ficava nem um pouco escandalizado, pois já estava habituado a encarar a opus como uma espécie de salvadora da igreja contra os “inimigos que atacam a igreja desde dentro”. Era assim que Escrivá se referia muitas vezes.