Minha experiência no Opus Dei

From Opus-Info
Jump to navigation Jump to search

D.D.O.


Faz pouco mais de seis meses que abandonei o centro de estudos e assim como tantos e tantas pessoas quero compartilhar o que passei em 1 ano e oito meses no opus dei.

A primeira vez que fui a um centro foi em 1996, em pinheiros, não gostei nem um pouco do ambiente.

Depois de alguns anos, em 1998, por insistência de meus pais, retornei novamente ao mesmo centro. Na época estava buscando um crescimento pessoal e interior maior e dessa vez encontrei um ambiente e pessoas que me causaram uma boa impressão. Mas por estar estudando em campinas na época ia mais para jogar futebol aos finais de semana. Em 2000 fiz o meu primeiro retiro, o qual gostei bastante e comecei a frequentar o centro mais vezes, ainda esporadicamente pois aos finais de semana viajava para encontrar minha namorada. No entanto desde o começo algumas coisas me incomodavam:

  • me passavam a impressão de que contribuir para a Osuc não era nada além da minha obrigação;
  • aquelas conversas que tentavam entrar cada vez mais na nossa intimidade;
  • e aquela molecada de 14, 15 anos que não saía de lá e eu podia jurar que eles moravam lá.

Em 2001, quando minha namorada foi estudar nos EUA eu tive um pouco mais de tempo livre. Comecei a assistir o círculo, mas não tinha muita vontade de ficar mais, apesar da insistência dos convites para todo tipo de atividade.

Em 2002 minha vida mudou bastante, a namorada voltou de viagem e no final do ano acabamos terminando (para falar a verdade até hoje eu não sei o quanto isso foi influenciado pelo Opus Dei). Logo após eu contar que terminei o namoro para o meu “amigo numerário”, recebi o convite de pensar sobre a minha vocação.

Apesar de não simpatizar muito com a idéia, eu pensei , porque não? Afinal , se não tiver vocação, eu verei tranqüilamente.

Ledo engano. Daí começaram aquelas conversas:

  • você tem que decidir logo, não tem muito tempo, não decidir é o mesmo que dizer não.

Em 2003 fui á Univ, lá o meu “amigo” numerário, meio desesperado pois via que já estava no final da Univ e eu nada, resolveu ter uma conversa comigo e disse:

“Daniel, peça a admissão amanhã ao Diretor”, como se Deus tivesse dito isso a ele. Eu fiquei realmente puto naquela hora. No dia seguinte ele me pediu desculpas e eu resolvi não levar aquele episódio em consideração, poderia estar achando uma desculpa para não querer enxergar. Eu como tinha a ingenuidade de querer enxergar comecei a fazer quase tudo o que eles me pediam, missa de manhã, apostolado na meditação de sexta a tarde, etc, etc, etc.

Em agosto finalmente pedi admissão. Achei que tinha visto a vocação e fiquei muito triste.

A partir daí não me sobrava tempo para mais nada, o que parecia ser o objetivo da obra, para a pessoa não ter tempo de refletir, apenas aulas, aulas e mais aulas. Acho que isso é lavagem cerebral.

No domingo eu descansava um pouco na casa dos meus pais, pois ainda não morava no centro, lembro de alguns em que eu estava quase explodindo de tensão, tal era o número de normas a cumprir e tantas regras para viver.

Algumas coisas me custavam bastante:

  • a cobrança de fazer apostolado. Tive um amigo que quase apitou e eu quase surtei tamanha era a cobrança do diretor para eu falar com o cara todo dia;
  • a distância que tinha de manter das amigas, amigas mesmo, pois a ex-namorada eu nunca mais vi;
  • aquele ambiente de cruzada, em que não faltava intolerância para a menor crítica à Igreja;
  • aquele proselitismo selvagem de só pensar em vocações, vocações;
  • a seleção que se fazia das pessoas que iam freqüentar o centro. O diretor de pinheiros na época falou que tal pessoa “não iria se sentir bem no ambiente do centro”.
  • o horário que tinha para tudo, acordar, comer, conversar, dormir, parece um eterno seminário.
  • a falta de liberdade. É preciso pedir permissão para tudo, comprar algo diferente, sair do centro, fazer um interurbano, etc. Com certeza um religioso tem mais liberdade, um padre diocesano então nem se fala!

Outras coisas foram boas:

  • pelo apostolado me aproximei de conhecidos de anos anteriores que hoje posso chamar de amigos e que graças a Deus aproveitaram o melhor da obra e não apitaram;
  • aprender um pouco mais sobre a doutrina da Igreja e sobre as virtudes;

Mas como resultado de 1 ano e 8 meses como numerário eu percebi, e meus familiares, também que me tornei uma pessoa mais insensível, muito focada em conseguir vocações e gente para participar das atividades. Como iria fazer isso era secundário, o importante eram as 500 vocações. Fazia isso um pouco por Deus, um pouco pelos outros e muito por vaidade, de ficar bem com o pessoal do Centro (não posso dizer que algum dia considerei eles como família), mas afinal eram eles que eu tinha. Comentei isso nas minhas conversas “fraternas”, mas me disseram que o importante era o centro estar cheio.

Esse proselitismo está muito presente na obra, o exame de final de ano era: “consegui três ou quatro vocações para a obra, senão consegui não posso estar tranqüilo”.

No final eu os amigos e conhecidos que não podiam apitar ou que não queriam saber do centro ficavam para escanteio mesmo, e as amigas então nem se fala.

Também não estava feliz, no centro vira e mexe me pediam para fazer boa cara. No Opus Dei ou a pessoa está esgotada ou está com peso na consciência por não estar esgotada. Se a pessoa não está bem, nunca é cogitada a hipótese dela não estar no lugar certo, mas sim de que há alguma coisa que ela ainda não entregou, e nisso você entra num círculo vicioso que leva à loucura, eu estava em vias de....

Felizmente para mim o papai Noel veio mais cedo. Em abril soube pela minha mãe, supernumerária exemplar, que o padre JS, que sempre foi para mim uma referência na obra, tinha saído e que ela estava para sair também. Minha primeira reação foi de choque, depois de muita tristeza e até um certo desespero, pois o que é dito pelo fundador é que aqueles que saem põe a alma em perigo. Nesse mesmo dia fui para um convívio de São Rafael em Montes Claros. Lá não aguentei e conversei com um numerário mais velho, que entre outras coisas me disse que era feliz como um passarinho e me pediu para falar o que eu havia dito a ele na minha conversa fraterna. OK. Cheguei no domingo a tarde no centro de estudos do Sumaré e fui IMEDIATAMENTE, falar com quem eu tinha conversa, e, após eu INSISTIR, pois a pessoa estava muito ocupada, contei o que estva ocorrendo.

Na segunda, após o círculo, o padre do centro, que por acaso era com quem eu me tinha uma conversa fraterna quinzenal, na qual eu falava dos meus defeitos e como procurava melhorar, me chama para “conversar”. O que aconteceu depois foi um verdadeiro INTERROGATÓRIO, ou eu falava o que eu sabia ou pegava as minhas coisas e ia embora, além dele me jogar na cara todos os meus defeitos e me chamar de mentiroso umas cinco vezes. Daí eu levantei um pouco a voz, na verdade ainda estava em choque, e então ele caiu em si e começou a pedir desculpas. Eu aceitei e fomos jantar.

Naquela noite eu não consegui dormir, tranquei a porta do quarto e já não confiava em mais ninguém. No dia seguinte pela manhã ele voltou a me pedir desculpas, agora eu já não aceitei e me mostrei bastante contrariado.

Na volta do trabalho, fiz minha mala e fui conversar com o diretor dizendo que estava pronto para ir embora. Ele me convenceu a esperar um pouco mais e se prontificou a conversar todos os dias sobre os meus questionamentos:

  • Por que tantas pessoas deixam a obra;
  • a obra não está para servir as pessoas, mas sim para ser servida;
  • por que esse proselitismo selvagem;
  • por que tantas pessoas tomam remédio para se sustentar lá.

Nesse dia fui dormir mais cedo e acordei no meio da noite.

Ainda eu não fui embora. Como é difícil pegar as malas e vazar. Naquela semana havia um feriado e eu fui para a casa dos meus pais almoçar e comemorar o aniversário da minha mãe. De lá sai decidido a ir embora. Cheguei ao centro de estudos e fui conversar com o diretor, questionei muitas coisas e no meio da conversa ele falou que quem persevera na obra, mesmo que passe um tempo no purgatório se salva, mas a gente não sabe o que acontece com quem sai.

Depois dessa frase eu percebi que ia ficar louco se permanecesse lá. Não dormi de novo e na manhã seguinte, chamei um táxi no meio da oração, e despachei minhas malas para casa. Assisti à missa e depois falei com o diretor que iria passar uns dias na casa de meus pais. Não voltei nunca mais e não me arrependo nem um pouco.

Hoje, mais de seis meses depois de ter saído vejo que fiz a coisa certa, que Cristo continua próximo, que Ele não foi embora.